AMANHÃ
Beijei-te de baixo para cima
e engoliste-me o silêncio
travado na garganta e no colo masserado,
encaracolado e dolorido.
Não há razão para te amar mais ou menos dos que aos outros
mas este amor enorme existe em mim
quando te beijo de baixo para cima
e me engoles.
O amor em que nos tornamos faz
as bocas serem trespassadas
pelas línguas vermelhas onde escorre a saliva
que nos possui ou nos encontra.
Quando te beijo de cima para baixo
transpiro palavras,
as que digo e as que sinto.
E mais as que queria dizer
cheias de silêncios e abismos,
metáforas e feitiços.
E enfeitiçados pelo cheiro dos corpos alados
das mágoas secas e das alegrias frescas
beijamo-nos, lado a lado, com os lábios presos
às cordas dos afectos transpirados
entre as gotas do mundo desse tempo.
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