SEMPRE É NADA
Olha,
quando tornar a ser menino
e te der a mão para afastar o medo;
Quando voltar a dar-te o braço
para te entregar novamente no altar
afastando-me com um sorriso
e com os teus olhos pregados aos meus;
Quando tudo for novamente tudo
outra vez e de novo;
Quando da minha mão tiver novamente caído terra
nas tábuas que encerrarem o teu corpo;
Quando tornares a ouvir-me chorar
respirando o mundo que me acolhe;
Quando tornares a correr para casa
procurando o meu conforto depois das brigas na escola;
E quando voltar a sentir-me em casa
com o cheiro a bolo quente que tirarás do forno, ainda húmido;
Quando tornar a ir à escola
porque foste apanhado a fumar o teu primeiro cigarro;
Quando fores a correr comigo nos braços
porque a febre não baixa e a ansiedade aumenta;
E quando, e quando
e quando tornar a acontecer outra vez.
Comigo e contigo e com ele, e ela e com eles.
Sem sabermos quem é quem,
quantos e como somos...
Vais entender
Vamos perceber
Que a vida é um mundo de círculos,
Que brincam connosco e com ela própria.
E que a existência não é;
Sente-se;
E que o que hoje está no alto amanhã será em baixo,
E o que nos comove hoje amanhã será a graça
do que move e separa.
Do que junta e petrifica.
E que o amor que vem de dentro para fora e
o que sofremos de fora para dentro
é uma e a mesma coisa
para sempre.
Porque o sempre nunca foi nada.
Olha,
quando tornarmos a ser meninos
não te esqueças de me dar a mão.
<< Home