Escrever histórias 100 palavras

As histórias fazem parte do nosso universo, mesmo quando já somos crescidos por fora. Escrever histórias é uma das formas de conseguir sobreviver ao mundo dos crescidos. Helena Artur é o pseudónimo da Joana Quinta

quarta-feira, maio 18, 2005



VEM


Vem.
Vem, pois quando amo
amo assim.
Sem dor, sem mágoa e
sem esperar o amanhã que pode ver-nos.

Vem,
Vê-me com as mãos de quem não sabe
como se de o cego se tratasse,
toca-me com os lábios do tempo que não pára,
lábios sem tempo que não sabem.

Vem,
Mas não te lembres de ti.
Chega-te sem teias, sem aranhas
que o meu corpo é de veludo cor de sangue
até ao amanhecer do que chamas ser amor.

Vem,
E não me deixes dormir
pois para a eternidade já pouco falta
e nós, de bocados feitos, chegaremos lá bem depressa.

Vem,
Não olhes para trás de ti,
nem para trás do véu que uso quando amo
de espuma feito para te embalar
como embalam as sereias os marinheiros.

Vem,
Foste marinheiro do meu desassossego
da juventude,
do medo e do ciúme;
e do meu sossego foste filho.

Vem,
Por ti,
e por mim vem ter comigo
e emaranha-te
nos meus cabelos cor de fogo,
nos meus pelos cor de mel
e no perfume que de dentro de mim exala para te prender.

Vem,
Vem que te quero ter,
vem que me quero assim,
vem que te quero amar.
Sabendo que por momentos serás o único
e melhor amante
o meu mais querido momento de verdade.

Vem
E deixa-te afundar nas veias do meu pescoço,
no abraço do meu colo.
Vem que te preciso amar
hoje.

E depois não te lembres mais de mim.
Reconhece-me tão somente como a matriz do teu destino.