Escrever histórias 100 palavras

As histórias fazem parte do nosso universo, mesmo quando já somos crescidos por fora. Escrever histórias é uma das formas de conseguir sobreviver ao mundo dos crescidos. Helena Artur é o pseudónimo da Joana Quinta

terça-feira, dezembro 06, 2011

FAZEDORA
As mãos. A ocupação oficinal, o silêncio e o ouvir do pensamento. 

                      http://artesoficinaisjoalhariaecriatividade.blogspot.com/



O trabalho oficinal traz a tranquilidade do fazer, do ser feito, da consciência do passar do tempo na construção. 
Sempre assim senti. Fazendo colagens, pintando, escrevendo, fazendo crochet ou tricot. 
Trabalhar os metais reforçou essa tranquilidade e essa consciência, bem como o acreditar que a inspiração só vem com trabalho diário e não romanticamente como uma aparição de algum dia ou hora especial. 
A criatividade, o descobrir, o inventar alia-se ao trabalho minuto a minuto, hora a hora. 
Os materiais vão sendo moldados e modificados, alterados, recozidos e enaltecidos pelo espírito que escorre através das mãos. Outrora tratadas, suaves e macias como as de uma princesa;  agora sujas, riscadas, feridas e magoadas pelas ferramentas do trabalho. Trabalho que se vai fazendo sempre mais sem nunca aparecer o contentamento, sem nunca acabar a necessidade de continuar, sabendo que acabará quando acabarmos de o poder fazer.
As mãos, os olhos, a força do corpo, a emoção tornada paciência ou desespero, o trabalho, o erro, o refazer, o projecto, a vida. Tudo isto numa bancada, num cantinho de um atelier oficinal com cheiro a garagem abandonada.

Os metais são como as pessoas: se os tratarmos com calor e carinho reagem com meiguice e deixam-se trabalhar. Com frieza e brusquidão respondem com rigidez e teimosia. Esta aprendizagem oficinal seria útil à maioria das pessoas deste mundo.

Quase sempre surgem modelos, peças que não sabemos onde se escondiam e fazem já parte da necessidade da nossa vida. 
De nós e do que somos. Do que precisamos de ser.
O encontro dá-se e prolonga-se o anseio e a necessidade da dor e do amor pelo fazer.

O cobre, a prata, o zinco, o alumínio, os ácidos, as lixas, as serras, as limas, o torno, a tinta, o pincel e o sabão; os desenhos e a peça nunca perfeita pousada nas nossas mãos trabalhadas pelo que se faz. 
A busca do que não fizémos, do que não sabemos, o olhar para as mãos e entendê-las assim, tal e qual estão:  sujas, manchadas e feridas aquecendo o coração que bate dentro do peito.