REFLEXO
Preferiria que ninguém lhe viesse contar nada sobre ele. Emergia sempre um travo amargo, saudades, lembrando que os sinais estiveram lá ao longo dos anos.
Quando lhe falavam ou contavam os reflexos dele nos espelhos tudo ficava estreito, minúsculo do lado de cá até se tornar insignificante nas palavras que ouvia.
Viveu mais uma vez a mágoa.
Teve de deixar-se vivê-la, olhá-la, limpar-se dela e finalmente concluir que era preciso deslocá-lo, assim como já acontecera com outras pessoas, para uma prateleira muito mais acima, muito mais longe do coração.
Daquelas que nem se lá chega para limpar o pó.
A constatação ajudou embora o sentimento atropelasse o raciocínio.
Respirou fundo e seguiu a sua vida sem mais amargura.
E com menos uma ilusão.
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