Escrever histórias 100 palavras

As histórias fazem parte do nosso universo, mesmo quando já somos crescidos por fora. Escrever histórias é uma das formas de conseguir sobreviver ao mundo dos crescidos. Helena Artur é o pseudónimo da Joana Quinta

sábado, outubro 29, 2011

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Três dias. Loucos, vazios, separados entre si por noites vazias, feridas onde o espírito mergulha com um turpor de demência.
Milagre de amor, voltar à escrita, voltar a confessar ao papel o que só a ti confesso.
Entre a caneta e a folha em branco volta a realizar-se o acto de amor que alcança em si toda uma volúpia muito especial.
Tenho a sensação estranha de que não estou a escrever para ninguém, que uma vez terminada a folha vou, não rasgá-la porque me rasgaria a mim próprio, mas lançá-la numa caverna funda, muito funda e negra, onde como numa mágica medieval a deusa encantada se materializaria a cada página que lhe dedico.
Creio que acertei, que é isso mesmo, para te sentir, ainda que ilusoriamente tenha de escrever qualquer coisa, senão para ti, pelo menos com o meu pensamento no teu regaço.
Não é uma vocação literária estrangulada que me chama; é uma paixão que o exige.
Tenho o fio destas letras a que me agarro com desespero, pois sei que depois delas vem uma vez mais a solidão.
Não te vás ainda, segura na doçura das tuas mãos a minha pobre alma, aquece um pouco mais o meu espírito na limpidez dos teus olhos. Mas será que te posso pedir tais coisas? Terei esse direito?
Abre a tua mão, fecha os olhos e não olhes o abismo, basta que eu lá caia, deixa que eu caia pelos dois, não deixes que a vertigem te precipite nos meus braços.