NATAL SEMPRE
É o tempo de Natal que
lentamente chega
enfeitado
falso e colorido
vestindo a cidade.
É o Natal dos outros
das montras
das compras
que todos os anos,
e mais uma vez,
vem passar junto de nós.
O meu Natal
- e o teu-
não vivia de dias marcados
no frio dos calendários
nem se escondia
nos fios dourados,
nem nas folhas de azevinho
que acabam por secar.
No nosso Natal
havia todos os dias ramos
de trigo maduro
a cescer dentro de nós
e papoilas vermelhas
a iluminar-nos os olhos.
Neste tempo de Natal
- dos outros -
ofereço-te simplesmente
as minhas mãos
para que contigo,
nesta terra que era a nossa,
irmos ao encontro do coração
de todos os homens que
em qualquer parte
tentam,
como nós,
navegar contra os rios da tristeza
em que nos querem afundar,
quebrar todos os muros
e ir contra todas as esquinas do desespero
em que às vezes
somos tentados
a perder-nos.
Fica o meu recado
para que nestas margens
em que encontramos
- e onde nos encontramos -
o nosso Natal
continue a gritar
em nós
todos os dias.
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