XX
( dedicado a quem partiu dia 9/9/2009)
Ajustou os óculos no nariz, inclinou-se para a chama e, na sua voz cantante de colegial, começou a ler, baixo, uma das cartas:
( dedicado a quem partiu dia 9/9/2009)
-"Minha querida" - leu - " a vida brinca connosco de uma forma maravilhosa. Não tenho mais nenhuma esperança senão ter-te encontrado a ti para sempre..."
Deixou de ler, pôs os óculos na testa e, com os olhos brilhantes, virou-se para mim, emocionada e em êxtase:
- Que cartas maravilhosas ele sabia escrever!
- Sim - disse eu. - Lê mais. Era um epistológrafo notável.
Mas o vento, aquele vento de finais de Setembro, que, até então, rondara, dissimulado, à volta da casa, arrancava, agora, as portadas da janela, agitava as cortinas e, como se trouxesse notícias de algures, tudo aflorava e removia no quarto. Então, extinguiu-se a chama da vela. É a última coisa de que me lembro. E, ainda vagamente, que Nunu fechou, depois, as janelas e adormeci.
(1938)
Sándor Márai in A herança de Eszter, 2006.
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