ADENTRO
Se não sei mais o que tenho vivido
Se não sei mais o que tenho vivido
é porque os meus olhos não te veem
e o meu coração não vem de volta,
mesmo esfumado pela auréola do tempo.
Enlaço os riscos gravados ao lado do teu coração
e se não ouves mais os meus passos,
o silêncio dos tecidos escorregando no chão do quarto quando me deito
é porque os teus olhos nunca entenderam o que viam.
Auroras jazem sobre folhas secas e amarelecidas pela espera,
esperança vã das pronúncias
e das esferas de cobre que reuníamos como astros no tecto do quarto.
Com o dia vinha a inocência e o acreditar que o projecto
iria desnudar-me pelo chão
fosse em que terra fosse,
fosse em que casa fosse,
estivéssemos no inferno do desejo ou no céu do carinho.
Do ventre nasceu sangue de te saber fora dele.
Das mãos soaram gemidos por te saber com terra sem chão.
Despi-me por dentro e despedi-me
das roupas que desnudam o sufoco
por mais que te queiram com histórias de paixão,
doçura e gemidos entre as mãos .
Nesta roda a dança do tempo construirá a casa, o chão, o quarto, o desejo
e o caçador de ruídos e cores,
como se a vida dependesse da luz que aprendemos do céu,
e o fluir do teu sangue
dependerá das voltas dos teus olhos
na maciez da minha pele.
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