TANGO
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ofereceste-me isto antes que o dia fechasse |
No verão
entreguei-me na paisagem da tempestade
com que palmilhaste o meu corpo nú
no silêncio das mãos cheias
num segundo só
No outono
criei a casa onde vives
ousando abrir as portas a quem troca a vida
mudando a crença pela interrogação
com as mãos na boca ensalivada
Ousei entrar
com desejo e desvario
ousei ver e ser o teu lado de dentro
as pernas no pescoço
e a viagem do teu ombro
Antes que o dia fechasse
ofereceste-me isto
como se me ceifasses o mar com as tuas velas
naufragando nos estreitos meus
sem saberes como me chamo
Esta noite arrancas-me as preces
prendendo o pensamento
no vão da porta de entrada
onde a esperança já morreu
Não consigo parar os dias
que me fazem contar a história
que a minha boca não sabe
e que o meu peito queima
com horas
Há gente que decora a vida
na ponta da língua e na sola dos pés
Outras rasgam com os passos
o ensaio da cor dos momentos
porque a vida são histórias ao acaso
decoradas com sentimentos que se veem
Foi assim que comecei a dançar
porque o tango são momentos
que se conseguem ver
e não se dizem.
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