Escrever histórias 100 palavras

As histórias fazem parte do nosso universo, mesmo quando já somos crescidos por fora. Escrever histórias é uma das formas de conseguir sobreviver ao mundo dos crescidos. Helena Artur é o pseudónimo da Joana Quinta

quinta-feira, março 16, 2006

FILHOS, CADILHOS E BOM SENSO



Todos nós, pais, acerca de um ou outro assunto/problema de uma das nossas crianças, já nos preocupámos imenso, corremos aos pediatras e psicólogos, perguntámos aos amigos e familiares - fazendo sempre aquela triagem do que achamos que não é exagero da nossa parte, mas que aos olhos alheios é disparatadamente e alucinantemente exagerado - até que um dia, cansados, angustiados e esgotados de tanta lide nos sentamos e, respirando fundo, aconselhamo-nos com o nosso bom senso ( que tinha ido viajar, sabe-se lá para onde). E relembramos o tempo em que éramos crianças. Nós e os nossos irmãos e os primos dos primos e os irmãos emprestados.
E as memórias fazem-nos antever o fim da crise ou do problema que até ali tanto nos trouxe insónia e ansiedade.

As memórias voltam a criar sensações como aquela tão reconfortante de estarmos na cama dos pais ( coisa proibida e invulgar) espantando a dor de ouvidos ou sacudindo os medos dos monstros que habitavam o nosso quarto.

Afinal, para que servem os pais senão para nos mimarem enquanto vamos crescendo até que eles desaparecem para sempre e passamos nós a ter o papel de pais?!

Nessa altura, quantos de nós já nos casámos, ou nos “juntámos”, para legitimarmos este desejo de dormirmos acompanhados? ...Continuarmos a espantar os monstros que habitam debaixo da cama e entre a roupa dos armários?!?

Acabamos por perceber que cada criança é uma criança, cada ser é único e que a mesma forma não serve para fazer todos os sapatos, porque todos os pés são diferentes!

Os nossos filhos, as nossas crianças são únicas, tal como nós. Não existem duas pessoas iguais interiormente. As receitas nunca poderão ser iguais, apesar do nossos amor por eles ser o mesmo e na mesma dosagem, tal qual antibiótico. Até a quantidade e forma como eles recebem esse amor é tão diferenciada que, por vezes, nos perguntamos se não teremos preferências inconscientes. Mas acredito que não. O receptor é que é sempre diferente e diferenciada a sua forma de captação do nosso amor.

Abençoados os filhos por nos tornarem pais; por nos fazerem crescer de forma por vezes tão penosa que nunca conseguiríamos terminar tal tarefa se eles não existissem.

Abençoados os pais que amam e cuidam, preocupam-se e zelam, velam e dão a mão.

Para pés diferentes, sapatos diferenciados e o mesmo amor!