Escrever histórias 100 palavras

As histórias fazem parte do nosso universo, mesmo quando já somos crescidos por fora. Escrever histórias é uma das formas de conseguir sobreviver ao mundo dos crescidos. Helena Artur é o pseudónimo da Joana Quinta

quarta-feira, janeiro 18, 2012


TRECHO DE UM TEXTO (1)




"Quando sairmos cada um vai para seu lado".
Nunca disseste nada que tanto me ferisse.
Senti que algo me retalhava, tive vontade de chorar, de me insultar. 
Sim, amor, o homem forte em quem todos confiam, o infalível, vacilou e tombou por terra como uma árvore abatida, o espectácula mais triste da natureza.
Fiquei só, naquele passeio solitário e duro, vendo a tua frágil figura afastar-se, leve, muito leve, mas triste, muito triste. Caminhavas como que levada por mão irresistível que teima em nos separar e contra a qual lutei; parecias flutuar no ar, esvoaçar para longe qual ave procurando a liberdade. Paraste e acenaste adeus. Adeus amor até um dia neste mundo, ou num outro, já que este tudo nos nega. Vai em paz querida, o meu espírito voa sobre ti, fraco demais para proteger-te, forte demais para renunciar.
Lá longe já na esquina, mais te adivinhava do que te via, mais contigo sonhava do que te sentia, eras a sombra fugidia do sol poente num fim de tarde de Agosto.
Existes? Vives? Amas-me? Sei lá!
Imaginei-te, sonhei-te, materializaste-te para logo desapareceres. Serás fruto da minha imaginação ou realmente existes?
Se assim é porque não estás aqui junto a mim, dizendo que me amas a cada segundo que passa, afagando com os teus lábios leves a minha orelha, sussurrando o amor que nos une e nos separa.
Neste momento nada sei, nada afirmo.
É tudo vazio em torno de mim. Há escuridão na vida à minha volta.
Adeus ténue miragem. Foste cruel, vieste não sei de onde, fizeste-me provar o mel para logo me dares o nada, o vácuo, a tua vida que me afunda, a mesma vida sufoca a força onde estrebucha um amor que recusa a noite.
Que me espera?
O suplício de te ver distante?!
A tortura de não poder desesperadamente gritar a minha paixão por ti!
Se essa é a tua vontade, segue o teu caminho, olha em frente e não vejas o condenado prostrada no chão, agrilhoada na tua imagem, crucificada nos teus braços. Segue em frente e ignora, fecha os ouvidos aos lamentos de suplício, fecha os olhos ao espectáculo da dor e do desespero que me arrasam.
Faz o que quiseres, não digas adeus e vai-te se assim quiseres ainda que rasteje, que suplique, que me cale; pede o que quiseres e eu to concedo.
Mas não, ah isso não! Não peças que te não ame, que te não venere como a uma divindade que tudo significa. 
Isso não, amor, deixar de te amar nunca!