Escrever histórias 100 palavras

As histórias fazem parte do nosso universo, mesmo quando já somos crescidos por fora. Escrever histórias é uma das formas de conseguir sobreviver ao mundo dos crescidos. Helena Artur é o pseudónimo da Joana Quinta

quinta-feira, abril 25, 2013


25 de Abril de 1974


Naquele dia a casa alvoraçara-se saindo da sua habitual calmaria e rotineiros rituais.
“ - As meninas hoje não saem de casa !” – o meu pai era a autoridade máxima lá em casa.
A minha curiosidade era tamanha que não me contive perguntando, várias vezes, o porquê e o que era e tantas outras coisas... Teria havido algum tremor de terra durante a noite que não tivesse dado conta?
Mas as palavras começaram a ser trocadas entre os adultos, amigos em telefonemas e as letras da palavra R E V O L U Ç Ã O começaram a fazer algum eco e sentido.

Exactamente no ano anterior tinha sido “convidada” a sair do Liceu Maria Amália Vaz de Carvalho, em Lisboa, por andar a colocar autocolantes contra a guerra colonial nas paredes das casas de banho…. Claro que fui "apanhada" e como era boa aluna não me expulsaram: convidaram-me a sair!
Crise lá em casa, claro, mas a vida seguiu em frente e passei para o Liceu Rainha D. Leonor onde tudo era já mais liberal.

Não tinha consciência política, só sabia o que via: os filhos dos amigos dos meus pais regressavam de uma guerra num estado lastimoso fisica e psicologicamente. E outros nem tinham regressado. 
Isso fez com que as perguntas começassem a fervilhar na cabeça e que o coração lhes desse forma sentido as respostas  que ia colhendo aqui e ali.

Hoje queria ter um presente que não tivesse sabor a um passado remoto e não esta sensação de ter uma corda a rondar o meu pescoço.