25 de Abril de 1974
Naquele dia a casa alvoraçara-se saindo da sua habitual calmaria e
rotineiros rituais.
“ - As meninas hoje não saem de casa !” – o meu pai era a
autoridade máxima lá em casa.
A minha curiosidade era tamanha que não me contive
perguntando, várias vezes, o porquê e o que era e tantas outras coisas... Teria havido algum tremor de terra durante
a noite que não tivesse dado conta?
Mas as palavras começaram a ser trocadas entre os adultos,
amigos em telefonemas e as letras da palavra R E V O L U Ç Ã O começaram a fazer algum eco e
sentido.
Exactamente no ano anterior tinha sido “convidada” a sair do
Liceu Maria Amália Vaz de Carvalho, em Lisboa, por andar a colocar autocolantes
contra a guerra colonial nas paredes das casas de banho…. Claro que fui "apanhada" e como era boa aluna não me expulsaram: convidaram-me a sair!
Crise lá em casa, claro, mas a vida seguiu em frente e
passei para o Liceu Rainha D. Leonor onde tudo era já mais liberal.
Não tinha consciência política, só sabia o que via: os
filhos dos amigos dos meus pais regressavam de uma guerra num estado
lastimoso fisica e psicologicamente. E outros nem tinham regressado.
Isso fez com que as perguntas começassem a fervilhar na cabeça e que o coração lhes desse forma sentido as respostas que ia colhendo aqui e ali.
Hoje queria ter um presente que não tivesse sabor a um
passado remoto e não esta sensação de ter uma corda a rondar o meu pescoço.
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