Escrever histórias 100 palavras

As histórias fazem parte do nosso universo, mesmo quando já somos crescidos por fora. Escrever histórias é uma das formas de conseguir sobreviver ao mundo dos crescidos. Helena Artur é o pseudónimo da Joana Quinta

terça-feira, setembro 26, 2006

CARÍCIAS




Indiscutivelmente o Verão é a minha estação!
O tempo quente, temperatura a rondar os 30 graus , o sol a brilhar nos nossos corpos e espíritos.

Mas por mais que me debata com a chegada do Outono nada há a fazer!
Render-me-ei, mais uma vez, permitindo-me sentir esta renovação, este recomeço como tantos outros que vivi anteriormente.
É sinal que estou viva, é sinal que sinto desde os ossos até aos olhos esta lindíssima transformação que se dá no Outono.
Todos os anos, por muito que não gostemos da neura que sentimos pela falta do sol, notamos um renascer, um gosto a começar de novo trazido pelos sabores outonais.
Admito que é fantástico por mais saudades que tenha do sol. Sei que ainda vou ter mais quando a humidade me fizer doer os ossos e me encaracolar o cabelo.
Mas este recomeçar, esta vida nova outra e outra vez, estes sentires que se repetem ano após ano têm, admito, a sua beleza e ajudam a sentir-me em casa. Dentro da natureza, dentro do mundo, dentro da vida e de ti.
Os cobertores e o seu aconchego é algo familiar e tem a ver com esta estação. E com a nossa relação. No tempo quente a nossa pele pega-se uma à outra lembrando mel, entrelaçando o amor a cheirar a sal e a sol. No Outono a tua pele acaricia a minha num afago quente cobrindo-me de aconchegos quentes que se descobrem nas folhas do chá.
O gato preferir o colo e enroscar-se no meu regaço todas as noites é sinal de Outono ( sim, sem dúvida, porque a minha gata é arredia e independente!).

As primeiras chuvas, e as pressas matinais à procura das botas, da gabardine e do chapéu de chuva: "Onde os terei eu arrumado? Estavam aqui, tenho a certeza!”- balbuciamos enquanto as nossas mãos agarram nos armários “pareos” de praia, bikinis e t-shirts de manga curta.

E quando acordamos de madrugada com o cair de uma ou outra tempestade da época? Não é tão romântico, apesar da manhã seguinte passar a tarde à custa de cafés? E o teu olhar no meu dizendo-me que o teu peito me espera para me abrigar do medo? Lembras-te?

Ainda tenho vontade de ser acariciada pelo sol, mas tenho de dar as boas vindas ao Outono.