REENCONTRO
A amizade passou por mim
na manhã lilás.
Discretamente soprou para longe os crisântemos do desespero
que ainda forravam os vales
e das sementes
nasceram girassóis
da vida a acontecer.
Vinha escondida no cesto das amoras silvestres
que se oferecem na madrugada.
Tinha a ternura da manta
que acolhe os nossos ombros,
do cântaro de água fresca
pousado no chão de pedra,
da fruta madura
perfumando a roupa da cómoda antiga,
do cheiro do pão fresco
guardado no linho
da arca esquecida.
Senti-a
no olhar das palavras que não foram ditas
no afago que ficou perdido no ar
no mistério do gesto
que não chegou a acontecer.
Veio quebrar
o labirinto do quotidiano
onde às vezes me desencontro
e me encontro.
Pousei a cabeça
nas mãos e fechei os olhos
sentindo no cabelo, como uma carícia,
a paz do entardecer
trazida no vento
pelo voo dos pássaros.
<< Home