ESTILHAÇO
Não percebi
quando foi que tudo se transformou em não.
No silêncio da suspensão do olhar
e na imobilidade da confiança
permitimo-nos sentir e rendemo-nos
até ao lugar do encontro.
Não sei quando tudo se transformou em não.
No teu peito fui semente
antevendo primaveras e outonos
trazendo dificuldades na alma
e uma maneira desigual de amar.
Vagueei sedenta dentro das formas
do teu corpo feito de água.
Não percebi
quando foi que tudo se transformou em não.
O deserto da espera cortou os nossos fios
ou fê-los renascer mais fortes?
Cá dentro tenho a forma agridoce
do saber oculto da alma
e no peito que é teu
florescem frutos novos de conhecimento.
Não percebi porque tudo se transformou em não.
Na pele dorida e nua da vida
o que me inquieta és tu sem mim
acordando antes dos pássaros
onde bocas infindáveis
são atentas aos passos
acompanhando os gestos.
Não percebi
quando foi que tudo se transformou em não.
Faltas-me confessando que fui feliz nos teus lábios
que teimam em não dizer
quando foi que tudo se transformou
em não.
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