Escrever histórias 100 palavras

As histórias fazem parte do nosso universo, mesmo quando já somos crescidos por fora. Escrever histórias é uma das formas de conseguir sobreviver ao mundo dos crescidos. Helena Artur é o pseudónimo da Joana Quinta

sexta-feira, maio 22, 2009

QUE CAMINHO ?


Não me importaria mesmo nada de viver num país pequenino ( e à beira mar plantado) se a mentalidade dos que nele vivessem não fosse também minúscula e de avultada pequenez. Se os valores morais e as regras de educação tivessem perdurado e saído ilesas ao longo dos anos de convulsões e alterações sociais.
A pequenez na mentalidade e na educação dos portugueses trazem à baila, mais uma vez, um episódio que poderia ser caricato se não fosse preocupante, principalmente para quem tem filhos e se preocupa seriamente com eles e com a sua formação.

Inicialmente o falatório do caso da professora de História na escola de Espinho não me chamou a atenção nem surtiu em mim qualquer tipo de curiosidade. Pensei que fosse uma tempestade num copo de água provavelmente feita por uma mãe mais conservadora ou até mesmo um empolgamento de um episódio menos feliz por parte da comunicação social.
Mas enganei-me e fiquei chocada com a história que acabei por ler – e ouvir – teimando em recordar-me que vivo num país empobrecido e minimizado principalmente na área da educação, bom senso, cultura, mentalidade e em tantos outros aspectos.
E este empobrecimento vem desde muito antes da crise actual, dos despedimentos, da falta de meios de subsistência, dos assaltos e dos roubos violentos, da falta de respeito pela vida humana, das lutas armadas entre gangs e tudo o resto que temos vindo a viver no nosso dia a dia.

Entre a situação dos alunos que agridem os professores em plena sala de aula e esta em que a professora se comporta sem qualquer tipo de educação, valores morais e bom senso agredindo verbal e intencionalmente alunos e pais... venha o diabo e escolha! Refletem ambas uma e a mesma coisa: o estado deplorável na educação e formação das pessoas que vivem neste país, além de poder igualmente atestar o desequilíbrio emocional generalizado dos portugueses.
Não nos limitamos a ser pequeninos geograficamente mas a sermos pessoas minúsculas com uma cabecinha ainda mais pequena e acções mais que microscópicas.

E este caso fez-me lembrar os relatos queixosos que fui ouvindo, por vezes à hora do jantar, quando o meu filho adolescente e contestatário me conta as prepotências de uma coordenadora ou de um ou outro professor. Todos sabendo o quão normal - e até saudável - é a contestação entre os adolescentes à roda dos 14 ou 15 anos de idade.
Começo a pensar se terá sido exagero ou não o que me contou ao longo do ano lectivo. Terei achado gratuitamente que ele estava a exagerar? Teria ele alguma razão – ou toda – quando se queixava?
Confesso que duvidei das várias queixas que ouvi pois é para mim impensável que tal possa acontecer da parte de professores e dentro de uma sala de aula. E como também sei bem as manhas dos miúdos quando não gostam de uma disciplina ou embirram com um professor dei menos importância aos relatos do meu filho desvalorizando as embirrações.
Neste momento, metendo a mão na consciência começo a achar que se calhar...estarei certamente mais atenta a partir de agora.

E agora põe-se uma questão para nós que temos de educar, formar e orientar o crescimento dos nossos filhos todos os dias dos vários anos que passam, uns atrás dos outros, imunes às alterações sociais e culturais constantes e equivocantes.
Como educar conservando os valores morais em que acreditamos, alertando simultaneamente para uma nova forma de conduta entre as pessoas e uma nova maneira de viver a realidade, tentando minimizar os estragos e maximizando a defesa física e psíquica dos miúdos?
Difícil. Cada vez mais difícil esta tarefa, vivida diariamente com algum sobressalto.

Voltando ainda ao caso da professora da escola de Espinho o que mais me preocupa é que a dita senhora tem escolaridade a nível universitário e tem como profissão ser professora. E os professores deveriam ser, em qualquer sociedade e qualquer lugar do mundo, quem ensina e quem ajuda a formar ou, pelo menos, quem não ajuda a deseducar.
Este casos e os semelhantes são uma questão de completa má educação e desrespeito pelos outros.
A sociedade em que vivemos actualmente é o espelho desta pequenez, desta mesquinhez de costumes e sentimentos.
Preocupante e muito triste este caminho.