E o que custa voltar lá mais uma vez?...
Sentei-me mais uma vez à espera num corredor estreito com meia dúzia de cadeiras. Tão estreito e tão pequeno que mal chega para se aninharem as mágoas, os sustos, os medos, os anseios e o vazio de quantas estão, mais uma vez, esperando.
E o que custa estar sozinha nessa espera que não sabemos se é de vida, de morte ou de sentença de adiar? Não ter com quem falar do que nos assusta ou de outra coisa qualquer é terrível, aterrador porque só ouvimos os ecos das dores dos outros.
E o que custa quando nos sabemos sós naquela batalha sem sequer conhecermos as armas com que podemos lutar? Resta a coragem e o medo de quem tem coragem.
Já devia estar habituada. Há mais de dois anos que o faço sozinha; olho invejosa para as colegas que estão acompanhadas e mimadas.
Quantas como eu ficam no seu canto quietas, bem comportadas a ouvir o bater do coração como única companhia possível, até que, ouvindo o nosso nome ele quase pára.
“É a minha vez…agora vou eu entrar... é agora”.
Pegando na mala, no livro e no saco dos exames, levando debaixo do braço a folha com as perguntas estudadas, lá desando para o gabinete asséptico deixando o meu vazio na cadeira. Transporto o medo do momento.
E o que custa tudo isto? E o que custa a espera dos resultados e o veredicto do médico?
E o que custa o silêncio, uma não certeza, uma não vida a crescer dentro do susto?
E o que custa chegar a casa e continuar só, não contar aos filhos porque são filhos, nem aos amigos porque são amigos, limitando-me a contar aos gatos que entendem que não é um bom dia para festas?
E o que custa continuar sempre a falar comigo, para dentro, até ao ponto de não saber se somos nós que falámos ou se ouvimos alguém dizer alguma coisa?
Pensamentos, esperas, receios, esperanças e solidão misturam-se até que a reacção é uma única: inevitavelmente andar
E o que custa sabermos isso? Eu sei como se vive esta parte da vida.
<< Home