Escrever histórias 100 palavras

As histórias fazem parte do nosso universo, mesmo quando já somos crescidos por fora. Escrever histórias é uma das formas de conseguir sobreviver ao mundo dos crescidos. Helena Artur é o pseudónimo da Joana Quinta

segunda-feira, maio 28, 2012

QUARTAS-FEIRAS


Sim, Sara, finalmente percebeu!

É, na realidade, o "como" que é importante...neste momento.
Mas, repare, nem sempre terá sido assim. Houve um momento, quando o mundo era novo, em que o "quê" era de facto sempre novo. Em que as pessoas diziam coisas novas todos os dias. Em que as coisas e o mundo nos surgiam tão cristalinos e incentivadores à invenção que cada dia começava e acabava em si mesmo como um pequeno universo autónomo. Um tempo sem tempo.

Mas um dia a coisa acabou. Os dias começaram a seguir-se uns aos outros, numa continuidade interminável. As 24 horas de um dia já eram as 0 horas do seguinte. E o discurso esgotou-se. A verdade vestiu-se de aridez e as pessoas começaram a sentir a necessidade de a dizer de outras formas. De tanto se esforçarem chegaram a esta situação caricata, que vivemos hoje, de toda a gente pensar que tem coisas únicas para dizer, quando na realidade, dizemos todos as mesmas coisas, nesta fila interminável em que todos os dias pensamos que "hoje" é a nossa vez.

O bicho homem tornou-se um ser de uma hipersensibilidade egocêntrica. Só pensa no que sente e julga que sentir é pensar. Procura e reprocura dentro de si as razões, os sentidos, as explicações, como um rato desvairado que esburaca interminavelmente a terra.
Na realidade, a verdade não é árida, simplesmente não é dourada. E. simplesmente, não faz de nós o seu centro. O mundo é muito mais que nós e, para ele, somos apenas periféricos.


O "como"é hoje importante. Não como coisa em si mas como meio, veículo, de redescobrir o mundo, de construir linguagens que, eventualmente, reinventem a sua descoberta. Quando muitas vezes falo de humildade é neste sentido. Não no sentido social do termo como muita gente pensa. Aí podemos ser vaidosos quanto quisermos. Uns com os outros...Mas é com as coisas que nos são exteriores que há que ser cautelosos e há que estar atentos. Elas encerram em si todo o mistério, todo o porquê de tudo isto.