Escrever histórias 100 palavras

As histórias fazem parte do nosso universo, mesmo quando já somos crescidos por fora. Escrever histórias é uma das formas de conseguir sobreviver ao mundo dos crescidos. Helena Artur é o pseudónimo da Joana Quinta

domingo, novembro 23, 2014



 MORADA




Mergulho no interior desta vida

e neste ser decido respirar

apalpando o caminho até onde moro.



Quero reconhecer-me e tornar-me parte da minha casa

porque é sempre para cá que volto:

para este corpo que lateja e onde há o compromisso

de fazer com que cada minuto tenha a importância eterna.



Respirar esse instante em que gemo de dor ou de prazer,

bem aí onde mora a felicidade,

onde a alma vibra, onde a dor e o orgasmo da vida

avançam sem a tua permissão.



Mora nas minhas pestanas quando abro os olhos e vejo

e no coração que sente o que me é dado a viver.



A felicidade sente-se em casa quando o João me abraça

ou quando a Maria se lança ao meu pescoço

com o seu corpinho de boneca.

Quando sei que vos tenho de uma ou de outra maneira.



A felicidade morou e desmoronou-se 

tantas e quantas vezes a tua mão pousou 

na minha.



A felicidade não se constrói, toma-se!

Torna-se consciência de nós, na paz da ajuda,

no conseguir chegar ao último andar 

de um prédio tão mais alto que o céu!



Mora no rio de sangue e vida que sou

e no roçar as margens que me ladeiam

fazendo nelas as várias casas onde pernoito

e vou ficando.



Essas margens são vocês, são os outros, sou eu mesma,

as coisas, o calor, as dádivas dos agasalhos,

o conforto dos olhares sem palavras.



O rio sou eu

e tão naturalmente como nascer é não esperar demais

sabendo o tanto de que sou capaz.



A casa da felicidade é forrada da pele do meu corpo

que vai sentindo a face que me acolhe e que beijo.

É feita com asas para pensar e chorar a alma que construo

a cada segundo que passa,

a cada instante que abraço 

e que prometi ser eterno.



A felicidade mora nos espaços e instantes onde me apetece ficar…

como, por exemplo, agora.

Mora em mim e nas palavras de hoje quando digo que vos amo.

Mora aqui na palma da mão que se estende.



Sentem-se então comigo

e sintam-se em casa...



..tu…e ela…e também tu aí…

e até mesmo ela, mas principalmente vocês todos.



Afinal… a felicidade mora sempre aqui tão perto!