Escrever histórias 100 palavras

As histórias fazem parte do nosso universo, mesmo quando já somos crescidos por fora. Escrever histórias é uma das formas de conseguir sobreviver ao mundo dos crescidos. Helena Artur é o pseudónimo da Joana Quinta

quinta-feira, novembro 16, 2006

MAGIA DO REINO DAS PRINCESAS (I)





"Era terça-feira de Carnaval.
Beatriz saiu apressada do apartamento dele.
Tinha já escurecido e estava atrasada para a chegada do seu filho.
Correu até ao carro estacionado do outro lado da rua reparando que o chão onde pisavam os seus pés estava molhado.
Tinha chovido? Não dera por isso.

Aliás, não dera por nada do que se passara no mundo durante aquelas quase cinco horas que passara com Jorge.
Enquanto conduzia até casa relembrou o que tinham descoberto um do outro, o que tinham falado, o que tinham feito das suas vidas durante umas horas.
Tinham dançado ao som de uma ou duas músicas, deixando-se levar ao mesmo tempo pela conversa e pela atracção. Olharam-se, sentiram-se com e sem palavras. Amaram-se com palavras com e sem letras.
E, por fim, o instinto tinha brincado com eles.
A razão não conseguiu impor-se ao apelo do afecto, também físico.

Passou a mão pelo cabelo e sentiu o cheiro dele na sua pele. Sorriu. Arrepiou-se ao lembrar o calor da sua pele estranhamente tão familiar. Tinha-lhe lido a pele.

Esperara por ele quase dois anos.
Lembrou-se do que sentiu ao vê-lo pela primeira vez e sorriu novamente.

Os brincos..? Tinham ficado ao lado do sofá, talvez no chão ou no tapete vermelho.
Sabia que ele os encontraria e os teria em posição de destaque quando fosse ter com ele novamente. Talvez na vitrine, talvez no travesseiro branco. Ou dentro da sua mão.

Já em casa. Depois do jantar recostou-se no sofá e deixou-se cair para o lado puxando os pés para cima. Agarrou a almofada como se tentasse reviver aquela tarde onde tinha amado e onde se tinha sentido amada.
As saudades empurraram-na para as recordações, para as saudades e para as dúvidas.
Lembrou-se das palavras sussurradas ao ouvido: “Querida...”
"Deixa-me tocar os teus pés, devagarinho. Subir a rampa das tuas pernas, amar-te ainda vestida..."

Meu Deus, tinha tanto medo de voltar a acreditar e voltar a sofrer! Mas já sentia tanto. Tanto que já não cabia dentro dela. Tanto que já não podia esconder nem de si mesma nem de ninguém.

Tudo aquilo só podia ter acontecido por magia.
A magia dos contos de princesas que contou vezes sem conta aos seus filhos e aos filhos do seu coração.
Tinha valido a pena tantas palavras mágicas, repetidas vezes sem conta! "


Esta pode ser parte da nossa história.
Uma histórioa de amor como nos livros e nos filmes?!
Gostas de mim? - pergunto-te eu em pensamento.
Imagino a tua imagem sorrindo e dizendo que sim, ao mesmo tempo que me amas com os olhos e me chamas querida.

É verdade que tenho o teu cheiro na minha pele e não quero perdê-lo.
Fazes-me falta e o teu cheiro faz-me companhia.
Lembra-me as tuas mãos suavizando a inquietude do meu corpo, tentando saber quem eu sou por fora para melhor me imaginares por dentro.