Escrever histórias 100 palavras

As histórias fazem parte do nosso universo, mesmo quando já somos crescidos por fora. Escrever histórias é uma das formas de conseguir sobreviver ao mundo dos crescidos. Helena Artur é o pseudónimo da Joana Quinta

segunda-feira, junho 13, 2011

CONJUGAR O VERBO IR


Nas várias vezes em que te ajudei nas fragilidades físicas contra as quais lutaste até ao fim da vida existiram frases recorrentes nas nossas infindáveis conversas.

Uma delas, “ conjugar o verbo ir em todos os tempos verbais: ir, vou, fui, irei, indo…”, acalmava a tua sede de viagens, de ver coisas novas, de experimentar lugares e sítios. Foi um dos teus amores durante a vida: viajar, nem que fosse só dar um passeio regressando no mesmo dia.

Lembrei-me de ti e levei-te a passear, rumando a sul, entrando dentro do primeiro comboio que parou na gare. Não interessava o destino, o bilhete dava até ao fim da linha.

De mochila às costas e não sabendo para onde ia, tinha a escolha de sair do comboio quando o instinto me sussurrasse ao ouvido.

Olhava pela janela e vi parte da minha vida vista de cima tal e qual como via o Tejo.

Esvoaçaram na minha cabeça frases da campanha da Sumol! O target é, obviamente, jovens da idade dos meus filhos, mas fizeram cá dentro um eco perfeito recordando que já tive a idade deles. E percebi que a semente não morre e que ficou bem guardada cá dentro não ligando importância às rugas que apareceram com os anos.

pratica o “ não me interessa o que pensas de mim”.

( mantém-te original)

“ um dia vais achar que tens de trocar de carro de 4 em 4 anos”

( quando esse dia chegar não lhe fales)

Fantasticamente sãs essas filosofias e liberdades da minha juventude e que agora tornava a tê-las com outra sabedoria e outro sabor.

O comboio ganhou mais velocidade e as imagens, vistas da janela, confundiam-se umas com as outras fundindo-se num mar de cor indecifrável. Nadando aproximei-me do que queria.

Não há hipótese de me enganar: o destino é sempre o meu e o mundo é maior.