Escrever histórias 100 palavras

As histórias fazem parte do nosso universo, mesmo quando já somos crescidos por fora. Escrever histórias é uma das formas de conseguir sobreviver ao mundo dos crescidos. Helena Artur é o pseudónimo da Joana Quinta

quinta-feira, junho 14, 2007

NESTE MOMENTO




Sempre que corro para ti
estás lá à minha espera com o teu olhar doce
e os braços escancarados.
Reparo, depois, que já caiste da falésia.
Dou meia volta e corro novamente para ti.
E mais uma e ainda outra vez.
E sempre que recomeço tu estás lá à minha espera e, naquele momento, ainda sem teres caído da falésia.
Passarei o resto da vida a recomeçar a correr para agarrar aquele momento.

terça-feira, junho 05, 2007

ANOITECER EM PARIS




"— Bem sabes que tenho de ir. Já falámos sobre isso, minha querida. Mas acredito que a tua será a mais bonita de todas as bodas. E estarei contigo sempre. Mas ainda tenho um longo caminho a percorrer." — expliquei a Ana que insistia para que ficasse em Lisboa e participasse no copo-de-água.

Segurando-lhe as mãos delicadas entre as minhas beijei-a longamente com emoção.
"— Talvez o caminho que me falta percorrer não seja tão longo como até aqui...mas tenho de me apressar, minha querida. Tenho ainda de trocar de roupa e, como sabes, apanhar o avião da tarde para Paris ."— retorqui perante os seus insistentes pedidos.

"— Olha, escuta o que te vou perguntar : consegues entender que continuo a sentir esta nostalgia que me chama, incessantemente, para que anoiteça em Paris? "— disse-lhe olhando fixamente os seus olhos brilhantes de noiva.

"— Claro avó... Percebo sim. Ainda sentes muito a falta do Miguel, não é? É lá que te sentes mais perto dele, mais em casa? Achas que onde quer que esteja...no céu ou seja lá onde for esteve hoje na minha cerimónia? Achas que conseguiu ver-me? - perguntou-me a medo por falar na morte num dia tão alegre como aquele.
"-Tenho a certeza que sim, minha querida... esteve de mão dada comigo o tempo todo!- respondi-lhe prontamente . "-Nunca nos iria deixar sozinhas num momento como este, acredita!"- concluí.
" - Percebo que tens de voltar, avó. Percebo sim! Vai, não te atrases e não olhes para trás...afinal como nunca olhaste! — respondeu-me Ana sabendo que não voltaríamos a ver-nos em Portugal.