Escrever histórias 100 palavras

As histórias fazem parte do nosso universo, mesmo quando já somos crescidos por fora. Escrever histórias é uma das formas de conseguir sobreviver ao mundo dos crescidos. Helena Artur é o pseudónimo da Joana Quinta

sábado, junho 24, 2017



ALICE





- O amor faz com que olhemos o mundo do alto de uma árvore – dizia Alice enquanto nos deliciávamos com uns scones quentinhos.
- Árvore essa sempre maior que tudo o resto…enquanto amamos. O amor faz as árvores crescerem. Sem ele as árvores nunca tocariam o céu! – continuou.

Escreveu qualquer coisa num papel pequenino e azul, com letras redondas e miudinhas, dobrou-o ao meio e com o seu eterno ar de menina meteu-o discretamente no bolso.
- É para pôr debaixo da almofada do António, logo à noite…- justificou-se meio atrapalhada.

Achei-lhe graça mais uma vez. Vejo-a como mais ninguém consegue.
Conheço-lhe os olhos sinceros e crentes de quem ama e acredita que tudo pode ser possível. Se não for à primeira tenta-se uma segunda ou uma terceira vez…olhos de uma cor incerta mas com a certeza que só o amor consegue dar.

Dizia assim o manuscrito:

“ Amor,
Quando sei que me amas
a árvore à qual pertence o ramo
onde estás sentado de mão dada comigo
cresce tanto que passamos a ver o mundo do lado do céu.

Quando deixas de me amar
A árvore nunca o toca.
Amo-te e sinto a tua falta. Volta depressa. Adorei Sintra”


A Alice é mesmo assim... sempre foi.
Vive num paraíso que todos desejamos e a que teremos necessariamente de voltar.

segunda-feira, junho 19, 2017



AMOR PROVÁVEL





Estás condenado a partir, eu sei…todos estamos,  faz parte deste processo de estar vivo.

Mas demoro-me um pouco mais e faço de conta que ainda não percebi… acreditando que conseguirás enganar a morte mais esta vez.

Posso sempre habituar-me à tua ausência ou esquecer-me da tua presença.

É uma questão de aprender soluções através da paciência e dos ritmos sabendo que o tempo vai fazer deixar de doer tanto.

E, se ajudar, também posso pôr os meus fins nas tuas mãos, baralhando os nossos sins e os nossos nãos com a cadência  da batida do coração.

Podes ficar mais um pouco?


…não vás já, vamos precisar de mais uns minutos nesta vida.… terei a eternidade para te esquecer porque tivemos o melhor que a reciprocidade pode dar.

quinta-feira, junho 15, 2017


SIMPLES



Na terra do instante
o veneno dos teus lábios
e o antídoto da pele
trazem a saudade de sentir o bater do coração.

A face enterrada no peito
sabendo-me lá residente
respondendo com o sorriso
e com o abraço que faz desaparecer o tempo.

Porque no amor também se pode morrer muito.

sexta-feira, junho 09, 2017





ELOS




Sim, fui eu.

Fui eu que o escrevi...o que encontraste quando abriste o livro azul.

Tinhas-me procurado em todas as esquinas conhecidas, 
nos cafés e esplanadas onde as esperanças e os planos se aquietam,
nas casas sem portas.

Abriste as gavetas dos armários fechados 
onde camisas de punhos imaculados jaziam sem sol.

Finalmente desististe de me procurar e abriste um livro. 


Sim, era eu...
Lá estava acenando-te atrás de um poema.