Escrever histórias 100 palavras

As histórias fazem parte do nosso universo, mesmo quando já somos crescidos por fora. Escrever histórias é uma das formas de conseguir sobreviver ao mundo dos crescidos. Helena Artur é o pseudónimo da Joana Quinta

quinta-feira, setembro 16, 2010

JÓIAS DO PENSAMENTO ( I )


O meu pai dizia-me uma mulher de causas e fui-me reconhecendo nesse mote ao longo dos anos que já se passaram desde que partiu.
Não mulher de lutas e escaramuças idiotas e sem sentido, sociais ou familiares. Nada disso. Defensora de causas e incomodamente apreensiva com o que acredito estar profundamente errado no mundo em que vivemos, nas acções que praticamos, na forma como nos tratamos a nós, aos outros e ao que nos rodeia.
As causas francamente defensáveis, as causas justamente denunciadas não têm de ser mediaticamente actuais, politicamente conjunturais ou internacionalmente difundidas para que sejam as minhas. Nem sequer largamente faladas por uma questão temporal ou de moda.
Apercebi-me que era uma mulher defensora de causas mesmo que nunca chegasse a conhecer as consequências dos meus actos nem chegasse ao “take” com a palavra fim. Quantas vezes o começar é que foi importante? Lutadora de causas, mesmo das que ninguém ouve ou vê para além dos directamente beneficiários da sua resolução prática.
De causas não de conflitos.

Das causas que começam perto de nós, ao nosso lado, na nossa rua, nas situações em que estão envolvidos os amigos e os amigos deles. Causas que modificam os dias das pessoas, que ajudam a tornar a vida mais justa, menos violenta, mais humanamente suportável.
Escaldo-me com o calor de incêndios mesmo que não haja o perigo de me queimarem a casa.
Acredito que a educação e os valores nos transformam em melhores pessoas, em almas mais apetecíveis de amar. Acredito que os valores morais ajudam a perceber as causas pelas quais devemos dar a cara e as mãos.
Sei-me mulher de causas mesmo que as defenda sem barulho, com trabalho fazendo da postura o arco que faz mira ao alvo.
Mesmo que não se note. O importante não é o que se vê mas o que se sente, o que se transforma, o que alivia, o que traz de novo a alegria.

O meu querer também está no silêncio e nos silêncios especiais das pessoas que realmente pensam, sentem e amam. Está na parte de dentro, na quietude das palavras, na paz das letras desenhadas, no sorriso de nos sabermos defensores de causas.
Só assim sobreviveremos.