Escrever histórias 100 palavras

As histórias fazem parte do nosso universo, mesmo quando já somos crescidos por fora. Escrever histórias é uma das formas de conseguir sobreviver ao mundo dos crescidos. Helena Artur é o pseudónimo da Joana Quinta

sexta-feira, fevereiro 17, 2012

TESOUROS




" - Repara bem, a paixão, o amor e a amizade não são uma tatuagem para a vida... para o outro a quem nos démos de forma verdadeira e incondicional não estava lá, não era o(a) tal; as tatuagens não passavam de meros autocolantes que pensámos colados com supercola 3 e que, afinal, estavam colados com cuspo!
Só faz falta quem está!
E tu és tanto!"

terça-feira, fevereiro 14, 2012


SIMPLESMENTE


Na terra do instante
o veneno dos teus lábios
e o antídoto da tua pele
trazem a saudade de sentir o bater do teu coração.
A face enterrada no teu peito
sabendo-me lá residente
respondendo-te com o sorriso
e com o abraço que faz desaparecer o tempo.

sábado, fevereiro 11, 2012


6883


O homem prendia nos braços aquela ave.
Acariciava-lhe a cabeça, percorria com os dedos o contorno esbelto do pescoço. Roçava-lhe com as faces as penas macias, encostava-lhe o ouvido ao peito e escutava o pulsar ansioso do seu coração.

No olhar via-lhe ao mesmo tempo fogo, doçura, pânico e tranquilidade; que estranho tropel de sensações, que vibrações provocavam nele que as julgava mortas há muito ou, pelo menos, acorrentadas à lógica do senso comum.
Que descortinar de um sentir novo, louco, arrebatado e honestamente incoerente.

Mas um dia a bela ave quis partir e então o homem, mordendo os lábios, sentindo na garganta uma tremenda angústia sufocada, retendo nos olhos um orvalho de tristeza, deixou-a ir.
Numa tarde de Agosto o homem abriu os braços, retalhou o peito, cerrou os olhos, sufocou o grito e deixou a ave voar.


Ficou a vê-la afastar-se, elegante, graciosa como uma bola de sabão que se vê subir no céu, como um balão colorido que se escapa das mãos de uma criança.
Ficou a vê-la até à ilusão de que ainda a via.
Depois seguiu, só, triste todo virado para o seu mundo interior, muito seu, felizmente seu.
Os olhos da alma do homem estavam pregados ao céu azul à espera de a ver voltar, para de novo a prender nos seus braços e nunca mais a deixar partir.
NOITE










O silêncio
na noite
tem a voz da sombra
como tu
quando choras.

quarta-feira, fevereiro 08, 2012

CURIOSIDADE


A gata mais nova anda curiosíssima. 
As batidas dos maços, martelos e malhos nos metais despertam a sua curiosidade. A fundição da prata, a chama, os ritmos de serração são mundos novos. E a curiosidade é infinita.
Tornou-se companheira de oficina.



segunda-feira, fevereiro 06, 2012


NEVE EM PARIS

Paris- Jardin desTuileries


Os enormes olhos azuis, acompanhados de um sorriso maior que os seus dois anos, não se cansavam de olhar o branco. 
"- Ohvóóó...neve...ttiimm,..é...?..." - balbuciava apontando com a luva redondinha e minúscula. 
Sorri-lhe e respondi-lhe: " - Sim, querida, é neve!".
Tudo branquinho e muito frio. O narizito avermelhado fungava de alegria e com curiosidade olhava-me, de vez em quando, apertando-me a mão com força.
Paris é sempre Paris. 
Com neve, com frio, sem neve, sem frio. Florida ou não.
Como habitualmente, tive de calçar três pares de meias mas, desta vez, levei botas felpudas para a neve recordando que os meus pés congelam no inverno parisiense! E para agasalhar a falta de peso nada melhor que um longo casacão e um chapéu macio enterrado até ao pescoço.
Pisámos neve, pela primeira vez, as duas de mãos dadas.
Os segredos e as magias continuam guardados nesta cidade fantástica.


O Segredo- Rodin