Escrever histórias 100 palavras

As histórias fazem parte do nosso universo, mesmo quando já somos crescidos por fora. Escrever histórias é uma das formas de conseguir sobreviver ao mundo dos crescidos. Helena Artur é o pseudónimo da Joana Quinta

domingo, novembro 07, 2010

UM BOM DIA PARA CASAR ( I )

Será sempre difícil transmitir o prazer que senti naquela manhã de Maio. Perdi-me no tempo e não sei quantas horas passaram enquanto aquelas fotografias projectavam na minha cabeça um emaranhado de recordações.
Tinha chegado de Paris bem cedo e fui directamente para a casa no Areeiro. Por mais que as minhas filhas me garantissem que tinham arejado a casa duvidei que o tivessem feito.

Entristeceu-me que já nada tivesse o meu ou o teu cheiro...só um cheiro a mofo.
A gaveta das fotografias rangeu quando a abri. Tinha fotografias com mais de cem anos! Os meus pais no dia do seu casamento, o nascimento da minha irmã, o momento da primeira papa da minha neta, que se casava naquele bonito dia de Maio, os meus filhos, sobrinhos, amigos! Estavam lá todos.

As fotografias são fantásticas. Mostram-nos como já fomos e já não somos. São fiéis testemunhos de passagens da vida quantas delas esquecidas mais ou menos inconscientemente.
Ali estavam as faces das ilusões e das esperanças.

Revivi paixões e arrependimentos. História de pais e filhos, de amigos e dos pais deles, de como se conheceram e das paixões que viveram. Realidades de irmãos, de quedas no Jardim Zoológico, de birras e carantonhas em Natais cheios de prendas. Espectáculos infantis, finais de curso, ballets e promessas de escutismo.

Pousei a caneca do chá. Sentei-me na poltrona do costume e a meu lado sentaram-se horas e dias da minha vida entrecruzada com a deles. Dos que foram e ainda são a minha vida.
Faltavas tu.