Escrever histórias 100 palavras

As histórias fazem parte do nosso universo, mesmo quando já somos crescidos por fora. Escrever histórias é uma das formas de conseguir sobreviver ao mundo dos crescidos. Helena Artur é o pseudónimo da Joana Quinta

quarta-feira, maio 27, 2009

PELO AVESSO


Misturas-me com as tintas das telas que pintas
roçando os dedos marcantes nas minhas ancas
nas noites suadas do calor das cores

Suportas as chapas de zinco tintadas
nas costas do mar da tinta que escorre
no meio de mim quando me entrego

Os pingos de prazer esbatem as ilusões
que a lua escondeu dos amantes
errantes e sós.

Trocas de pernas comigo
e trocando beijos contigo levo as cores
em salpicos sujos de chão.

Torço-te o coração traçando as pernas
joelho roça joelho,
sorriso troca sorriso,
olhares esquinados por detrás dos lençois
feitos mapas onde traçamos rotas.

O sangue salpica-te as veias
e os sentidos sem sentido
ouvindo os uivos dos que sabem da nossa vida ao contrário.

sexta-feira, maio 22, 2009

QUE CAMINHO ?


Não me importaria mesmo nada de viver num país pequenino ( e à beira mar plantado) se a mentalidade dos que nele vivessem não fosse também minúscula e de avultada pequenez. Se os valores morais e as regras de educação tivessem perdurado e saído ilesas ao longo dos anos de convulsões e alterações sociais.
A pequenez na mentalidade e na educação dos portugueses trazem à baila, mais uma vez, um episódio que poderia ser caricato se não fosse preocupante, principalmente para quem tem filhos e se preocupa seriamente com eles e com a sua formação.

Inicialmente o falatório do caso da professora de História na escola de Espinho não me chamou a atenção nem surtiu em mim qualquer tipo de curiosidade. Pensei que fosse uma tempestade num copo de água provavelmente feita por uma mãe mais conservadora ou até mesmo um empolgamento de um episódio menos feliz por parte da comunicação social.
Mas enganei-me e fiquei chocada com a história que acabei por ler – e ouvir – teimando em recordar-me que vivo num país empobrecido e minimizado principalmente na área da educação, bom senso, cultura, mentalidade e em tantos outros aspectos.
E este empobrecimento vem desde muito antes da crise actual, dos despedimentos, da falta de meios de subsistência, dos assaltos e dos roubos violentos, da falta de respeito pela vida humana, das lutas armadas entre gangs e tudo o resto que temos vindo a viver no nosso dia a dia.

Entre a situação dos alunos que agridem os professores em plena sala de aula e esta em que a professora se comporta sem qualquer tipo de educação, valores morais e bom senso agredindo verbal e intencionalmente alunos e pais... venha o diabo e escolha! Refletem ambas uma e a mesma coisa: o estado deplorável na educação e formação das pessoas que vivem neste país, além de poder igualmente atestar o desequilíbrio emocional generalizado dos portugueses.
Não nos limitamos a ser pequeninos geograficamente mas a sermos pessoas minúsculas com uma cabecinha ainda mais pequena e acções mais que microscópicas.

E este caso fez-me lembrar os relatos queixosos que fui ouvindo, por vezes à hora do jantar, quando o meu filho adolescente e contestatário me conta as prepotências de uma coordenadora ou de um ou outro professor. Todos sabendo o quão normal - e até saudável - é a contestação entre os adolescentes à roda dos 14 ou 15 anos de idade.
Começo a pensar se terá sido exagero ou não o que me contou ao longo do ano lectivo. Terei achado gratuitamente que ele estava a exagerar? Teria ele alguma razão – ou toda – quando se queixava?
Confesso que duvidei das várias queixas que ouvi pois é para mim impensável que tal possa acontecer da parte de professores e dentro de uma sala de aula. E como também sei bem as manhas dos miúdos quando não gostam de uma disciplina ou embirram com um professor dei menos importância aos relatos do meu filho desvalorizando as embirrações.
Neste momento, metendo a mão na consciência começo a achar que se calhar...estarei certamente mais atenta a partir de agora.

E agora põe-se uma questão para nós que temos de educar, formar e orientar o crescimento dos nossos filhos todos os dias dos vários anos que passam, uns atrás dos outros, imunes às alterações sociais e culturais constantes e equivocantes.
Como educar conservando os valores morais em que acreditamos, alertando simultaneamente para uma nova forma de conduta entre as pessoas e uma nova maneira de viver a realidade, tentando minimizar os estragos e maximizando a defesa física e psíquica dos miúdos?
Difícil. Cada vez mais difícil esta tarefa, vivida diariamente com algum sobressalto.

Voltando ainda ao caso da professora da escola de Espinho o que mais me preocupa é que a dita senhora tem escolaridade a nível universitário e tem como profissão ser professora. E os professores deveriam ser, em qualquer sociedade e qualquer lugar do mundo, quem ensina e quem ajuda a formar ou, pelo menos, quem não ajuda a deseducar.
Este casos e os semelhantes são uma questão de completa má educação e desrespeito pelos outros.
A sociedade em que vivemos actualmente é o espelho desta pequenez, desta mesquinhez de costumes e sentimentos.
Preocupante e muito triste este caminho.

quarta-feira, maio 20, 2009

INDECIFRÁVEL

Tentei decifrar o significado das coisas
nos excertos que deixaste
e que sobraram de ti.
Não percebi se eram sinais que não levavas
ou mero lixo do que já não amavas
de ti
ou do amor
ou dos teus amores, uns fortes e outros banais.

Naquela altura não consegui perceber.
Sobejaram sempre palavras e perguntas
às quais nunca foste respondendo.
Sobrou algo do tanto daquele grande tamanho.
Bem sei que as medidas não são iguais para os que deixam de amar,
para os que partem e para os que ficam a amar ainda
mas aos excertos, aos bocados e aos sinais guardei-os para tos devolver.

São teus e devem ter explicação, para mim indecifrável.
Prometeste explicar.

terça-feira, maio 19, 2009

SEM REDE


Hoje
se perguntarem por mim
respondam que não estou
digam que voei
que me assustei
com um toque na alma
a aprender como é ficar
suspensa nos dias da vida
que, por acaso,
ainda é a minha.

domingo, maio 03, 2009

ORAÇÃO EGOÍSTA DE DIA DA MÃE

Meu Deus,
sei que Te peço em todas as orações, todos os dias,
mas nada mais posso fazer senão pedir, além de esconder o meu receio.
Sei que Te peço que nada de mal lhes aconteça.
Que ampares as suas quedas
e que os seus sustos sejam sempre e só sustos.
Sei que peço sempre e muitas,
muitas vezes, para estares sempre a seu lado.
Dá-lhes um fardo leve, uma aprendizagem farta
e uma felicidade grande.
Que possam um dia vir a saber como é o amor que tenho por eles.
Não por lerem ou ouvirem contar; não por suspeitarem
ou por se sentirem amados desde que nasceram.
Faz com que saibam que é um amor incondicional, constante, forte
e só não é eterno porque eu também não sou. Mas que olharei por eles sempre se me deixares, sempre que não puderes fazê-lo.

Sem eles como sobreviverei ao silêncio?
E à falta de abraços com cheiro a suor de filho adolescente ou com o odor brando de pele macia de filha quase mãe?

Como sobreviver sem as saudades que tenho dela percebendo de antemão se me vai telefonar a pedir conselhos?
E as graças dele, ah! ...as piadas e o humor dele servido todos os dias ao jantar como sobremesa, quantas vezes única força no meu cansaço de fim de dia.
E as gargalhadas e sorrisos que consegue arrancar-me num mundo de preocupações cantando canções que só arrisca no duche?! Insubstituível com as suas novidades, frescas e com ar de “a última maravilha do mundo” contadas em cima da cama desalinhada e com fios de portátil misturado com pacotes de bolachas!

Seria tão complicado viver sem eles.
Vai ser tão complicado viver quando ele se for embora de casa como foi quando a Ana partiu. Nessas alturas torna-se difícil respirar.
É sempre mais difícil sem eles.

Peço-Te, meu Deus,
que os ajudes a respirar quando um dia sentirem um amor como este.