Escrever histórias 100 palavras

As histórias fazem parte do nosso universo, mesmo quando já somos crescidos por fora. Escrever histórias é uma das formas de conseguir sobreviver ao mundo dos crescidos. Helena Artur é o pseudónimo da Joana Quinta

terça-feira, junho 10, 2008


2001


Mariana sentou-se à secretária à mesma hora de todos os dias.
As suas rotinas tinham passado a ser tristemente iguais. Sem ele os dias tornaram-se numa verdadeira espera.
De repente, o silêncio desabou sobre ela, desta vez trazendo dureza e desalinho no equilíbrio que tentava manter.
Ligou o computador e percorreu o blog deixado por Miguel relendo o que lhe dedicara, há uns anos atrás, exactamente naquele dia. No aniversário do dia em que se encontraram. Dia em que se permitiram sentir, em que deixaram cair parte das máscaras e compromissos que os afastavam.
Releu as palavras de Miguel: chamava o seu nome mascarando-o de letras coloridas e poesia. Chamava, mais uma vez, aquele grande amor reescrevendo-o pintado com as cores sonhadas pelos dois. Enchia-a de mimos e carícias chamando-a de amada e amante, povoada de mistérios e encantamentos.
As saudades magoavam a sua vida e os seus olhos, os braços estavam pesados pelo esforço de continuar em frente.
Como era penoso estar tão longe dele e ao mesmo tempo tão perto. Como era penoso amá-lo em todos os recantos e recordações sabendo-o invisível aos olhos e tão presente ao coração.

Naquela data especial decidiu romper com a rotina e não escreveu nada, nem uma letra. Era feriado, não trabalharia. As páginas continuariam em branco espelhando a luz imensa do amor.

terça-feira, junho 03, 2008

ATÉ QUANDO ?




Não pude ir-me embora sem antes te contar da nossa vida.
Da minha dentro do teu bocadinho que já é meu.
Repara: sempre que a vida me deixa,
à noite
amo-te até adormeceres,
redondo e aconchegado ao lado esquerdo do meu peito,
enquanto o coração te mima
e embala os sonhos
coloridos do que fomos e ainda por pintar o que seremos.
De manhã
vou-te amando devagarinho
com medo que acordes de estalo
com os beijos que te querem ainda morno
enovelado nos lençóis com as histórias que conhecemos.
Nos dias que passam sem sabermos
só as marcas do que temos surgem no amor que desenhamos dia-a-dia
sem pensarmos, sequer, até quando.