CÉU DA BOCA
Ensinas-me a dormir desnudada desapertando-me os botões da camisa.
Esgueiro-me para o lado direito da cama onde tu
dormes, quando estás comigo, agravando cada vez mais a minha culpa desta curva
desvairada sem retorno.
Não te ensinei a aquietar a chuva mas insistes em me dar a provar os prazeres do teu domínio, do treino do prazer contido e mandado.
Lambo a almofada quando me empurras como se não soubesse quem és nem quem vais ser.
Com os lábios roçados e doridos à tua passagem tento vergar-te ao suplício do desejo, sem que o consintas.
Viro-me, finjo que não te vejo e que não sabes quem
sou...não te mostro os olhos, não te dou os lábios, só me vês os semicírculos
lunares e nervosamente pressentes o limite.
Mas não, ainda não te rendes nem me roubas.
Pertence-te a ti a escolha de morreres em cima do meu
corpo ou de pensares que já não sou mais eu ali.
Tapas-me os olhos com carícias até que gema e te peça
que me ames mais depressa, que te lembres de gravar a tua culpa em mim e as
minhas vãs desculpas em ti.
Já cravada e dormindo sobre mim mexes-me no cabelo como quem ama uma miúda acabada de nascer. A quem não conheces, de quem não sabes a cor da alma.
Não sei mais o que fazer contigo nem em que lado da cama dormir.