Escrever histórias 100 palavras

As histórias fazem parte do nosso universo, mesmo quando já somos crescidos por fora. Escrever histórias é uma das formas de conseguir sobreviver ao mundo dos crescidos. Helena Artur é o pseudónimo da Joana Quinta

quinta-feira, fevereiro 28, 2013


JE T'AIME...




Mais uma vez a dança,
o fazer amor com alguém que se ama,
que se quer, que se gosta.
Uma história que se repete vezes sem conta
sempre diferentemente sentida,
diferentemente amada e gostada.
Amar é tanto que não é só.
É tudo.
Fazer amor é estar com
mesmo que não seja fisicamente.

domingo, fevereiro 10, 2013


OLHOS NOS OLHOS


Mesmo depois de escrever,
desfolhar-me, 
espremer-me e vomitar o que tenho,
a náusea continua presente,
sensação de inutilidade que esvazia,
deixando esta monotonia circular acontecer-me.
E mais uma vez as palavras 
olham-me nos olhos à espera 
de serem ditas,
vividas, recontadas em conversas tidas.

Olham-me devagar 
para adivinhar o que dizem
ao ver-te assim, tão perto, quando me olhas nos olhos.
Deixo que o tempo diga e as desenhe outra vez,
trazendo de volta o que contas 
daquele olhar devagar, do que é e que foi de mim, 
sem retorno nem regresso, 
contando o que ouviste e viste 
nessa cor que me estontece.


IMEDIATAMENTE



É domingo.
Nesta tarde o nevoeiro caiu sem fazer barulho,
sem estrondo nem algazarra.
O dia dissipa-se com ele 
como se as formas fossem vistas ao mesmo espelho 
repetindo os mesmos gestos e as mesmas métricas.
E, assim, ficou também perdido o horizonte.
Olho pelo frio do vidro onde o dedo lavra histórias com desenhos
e vejo as verticalidades da vida que anunciam o eco
que acompanha o respirar que carrego ao pescoço.

A neblina cega e só a memória vê
sem sentir nos olhos os contornos da rua.
Aguardo, espero, sinto e respiro a humidade
que hoje caiu, sem estrondo, deixando-me limitada
às fronteiras do meu corpo.

ESPAÇO


Assustei-me com o barulho do mar
e preciso de um abraço teu para serenar
o mar que tem vida sem limite.
Limitada a este corpo, nunca nasci ou morri,
somente sou porta pela qual passam
mãos agarradas às jornadas.
Nasci e morri... e tu e o outro também.
Para fechar e abrir as portas, deste jogo
que nos faz sentir que não diremos adeus,
dir-te-ei apenas um beijo até ao próximo encontro.
Estarei aqui, ali e em qualquer lado, em todas as formas de vida
que encontrares nos sustos que o mar nos leva.
Estou assustada. Dá-me um abraço com o barulho das ondas.

sábado, fevereiro 09, 2013


NUA


Ainda há luz nestes olhos que se fecham por cansaço
e anseios de um beijo que não vem.
Lábios em batalhas sem prazer 
onde o rosto é o mundo sem espelhos.
Batidas de um coração querendo sobreviver
à traição que chegou sem avisar.
O saber a verdade com cautela, com receio,
o sabor da injustiça que se senta ao nosso lado
no teu sofá cor de sangue.
Aquele momento, aquele fugazmente incendiado momento,
arrancado ao presente, tornado passado,
infinito enquanto amado, tornado sombra do mundo
...foi verdade?