OLHOS NOS OLHOS
Mesmo depois de escrever,
desfolhar-me,
espremer-me e vomitar o que tenho,
a náusea continua presente,
sensação de inutilidade que esvazia,
deixando esta monotonia circular acontecer-me.
E mais uma vez as palavras
olham-me nos olhos à espera
de serem ditas,
vividas, recontadas em conversas tidas.
Olham-me devagar
para adivinhar o que dizem
ao ver-te assim, tão
perto, quando me olhas nos olhos.
Deixo que o tempo
diga e as desenhe outra vez,
trazendo de volta o que contas
daquele olhar devagar, do que é e que foi de mim,
sem retorno nem regresso,
contando o que ouviste e viste
nessa cor que me estontece.