MORADA
Mergulho no interior desta vida
e neste ser decido respirar
apalpando o caminho até onde moro.
Quero reconhecer-me e tornar-me parte da minha casa
porque é sempre para cá que volto:
para este corpo que lateja e onde há o compromisso
de fazer com que cada minuto tenha a importância eterna.
Respirar esse instante em que gemo de dor ou de prazer,
bem aí onde mora a felicidade,
onde a alma vibra, onde a dor e o orgasmo da vida
avançam sem a tua permissão.
Mora nas minhas pestanas quando abro os olhos e vejo
e no coração que sente o que me é dado a viver.
A felicidade sente-se em casa quando o João me abraça
ou quando a Maria se lança ao meu pescoço
com o seu corpinho de boneca.
Quando sei que vos tenho de uma ou de outra maneira.
A felicidade morou e desmoronou-se
tantas e quantas vezes a tua mão pousou
na minha.
A felicidade não se constrói, toma-se!
Torna-se consciência de nós, na paz da ajuda,
no conseguir chegar ao último andar
de um prédio tão mais alto que o céu!
Mora no rio de sangue e vida que sou
e no roçar as margens que me ladeiam
fazendo nelas as várias casas onde pernoito
e vou ficando.
Essas margens são vocês, são os outros, sou eu mesma,
as coisas, o calor, as dádivas dos agasalhos,
o conforto dos olhares sem palavras.
O rio sou eu
e tão naturalmente como nascer é não esperar demais
sabendo o tanto de que sou capaz.
A casa da felicidade é forrada da pele do meu corpo
que vai sentindo a face que me acolhe e que beijo.
É feita com asas para pensar e chorar a alma que construo
a cada segundo que passa,
a cada instante que abraço
e que prometi ser eterno.
A felicidade mora nos espaços e instantes onde me apetece ficar…
como, por exemplo, agora.
Mora em mim e nas palavras de hoje quando digo que vos amo.
Mora aqui na palma da mão que se estende.
Sentem-se então comigo
e sintam-se em casa...
..tu…e ela…e também tu aí…
e até mesmo ela, mas principalmente vocês todos.
Afinal… a felicidade mora sempre aqui tão perto!