Escrever histórias 100 palavras

As histórias fazem parte do nosso universo, mesmo quando já somos crescidos por fora. Escrever histórias é uma das formas de conseguir sobreviver ao mundo dos crescidos. Helena Artur é o pseudónimo da Joana Quinta

quarta-feira, maio 17, 2017



DESPEDIDA




Despi-me de aconchegos antigos,
separei-me do medo das adivinhas
para ser sozinha ante os teus braços
que se abriram à nudez dos cheiros
e aos sons dos olhares.

Agora tem sido assim…
todos os dias, em qualquer lugar,
em qualquer cor ou som te encontro,
reconheço a tua ausência
e acarinho-me sem estares.

O teu ombro não me apoia, 
nem os meus lábios te tocam.
E o encontro, esse…
continua a ser feito de enormes silêncios sem pele
e dos espaços entre as palavras.

A melancolia acolhe-se nas mãos vazias da tua
e noto algo cá dentro que pergunta porque
me roubaste o silêncio

sem me devolveres nada
e meros ruídos sem som.

domingo, maio 07, 2017



APRENDIZ




Com a vida aprendi muitas coisas que não vêm em livros ou compêndios. Coisas que não se podem ensinar ou transmitir. Coisas vivas que só o são quando vividas.

Descobri, por exemplo, que a subida de um degrau da íngreme escadaria do pensamento faz crescer o nosso cérebro. Expande-se, ilumina-se e sente-se mesmo um “clic”. A partir dessa altura nem ele nem o nosso coração serão os mesmos, nada mais será igual ao momento exactamente anterior.

Desde há uns anos para cá tenho descoberto que com o coração se passa o mesmo: cada desilusão ou cada mágoa fá-lo aparentemente retroceder no tamanho, na cor, na textura e na capacidade. 
Aparentemente porque no momento é assim que sentimos, que ele fica mais pequenino, que chora, que se entristece…mas no momento seguinte percebemos que é exactamente o contrário: ele expande-se, cria mais cor e fica com uma maior capacidade de acolher a vida.


De que tamanho estamos hoje?