Escrever histórias 100 palavras

As histórias fazem parte do nosso universo, mesmo quando já somos crescidos por fora. Escrever histórias é uma das formas de conseguir sobreviver ao mundo dos crescidos. Helena Artur é o pseudónimo da Joana Quinta

domingo, abril 20, 2014



DESEJO 
(SILÊNCIOS)

 

A língua lambe a linguagem
como a um desejo,
cobre-a com melodias sem gosto
consolada do inverno que sobe 
a namorar-me as pernas
e a entrada das entranhas
num mundo enigmático dos tais mistérios
do tempo que agora 
é apenas o enigma da tua boca.

Quero deixar de escrever
mas  demoro-me  lá mais
que a um de nós por fora,
como a tua queda cá dentro
tivesse sido hoje.
 
Descalça no tapete
colei a imagem reflectida

dos dedos no vazio dos passos 
que voaram na inocência louca da ansiedade.

A rua faz-me doer os pés.

SÓ SEGREDOS (LAST SUMMER)



Disseste-me
do segredo secreto de parecer adolescente
e, sem querer, aninhei-me debaixo do teu (a)braço.

Que amavas ser o meu segredo 
na fragilidade que não aparento
e que o meu rosto te iluminava a alma.

Sou tudo isso
e arrisco mostrar-me,
deixar cair o pano
Iluminando o rosto 
que guarda o meu secreto segredo.


PALAVRAS (LAST SUMMER)





Dou-te beijos com os olhos divididos 
que são as partes que se não sobram
dando-te o interior do meu repouso
nestes momentos que existem no silêncio
como se a alma tos cantasse em segredo.

E porque só uma palavra teria bastado 
para reescrever as memórias
nunca mais soube se me tinhas roubado…
ou se me devolveste ao que já era
para que as palavras não fossem suficientes 
e houvesse uma morte no coração.

Como uma faca trancada num golpe
num qualquer peito onde se aperta um medo
à espera  de um outro medo
escrevendo o meu num nome teu
alimento esta boca onde se morre de ausência
com pedacinhos de memória pendurados
e, já agora…não tornes a respirar tão longe
não tornes a gemer  mais longe das mãos 
que te chegaram com urgência.

Há certos dias em que isto dói,
dói-me esta vida, os sussurros e até os abraços,
batida que estou de estar comigo 
e de a ver sem dó desabar 
em cima de um qualquer destino.

Avanço para ti, dispo-te, agarro-te 
e mordo o sangue do que vês em mim 
um desejo assim que quer que viva
e dure até que seja tarde vindo refrear os teus impulsos.

... Xiiuuuu…
...contigo há momentos em que as palavras
não passam de meros ruídos inúteis.