Escrever histórias 100 palavras

As histórias fazem parte do nosso universo, mesmo quando já somos crescidos por fora. Escrever histórias é uma das formas de conseguir sobreviver ao mundo dos crescidos. Helena Artur é o pseudónimo da Joana Quinta

quarta-feira, dezembro 31, 2008

ALL BLACKS
... só faz sentido no rugby!



Ingenuamente pensei que num ano em que foi eleito para presidente dos Estados Unidos da América um homem com a pele preta, o racismo começasse a desvanecer-se deixando prevalecer a esperança de um mundo diferente do actual. Esperança no triunfo do bom senso, da paz e equilíbrio para a construção de uma vida digna, investindo as nossas energias no enfrentar desta grande crise que ainda agora começou.
Esperancei-me na alteração e modificação das mentalidades e preconceitos das pessoas. De todas as pessoas, independentemente da cor da pele com que nasceram ou das suas crenças religiosas ou de qualquer outro factor que faz esta biodiversidade tão sobejamente rica e preciosa.
Mas estava profundamente enganada nessa minha esperança infantil; e nem sequer me estou a referir às guerras constantes e infinitamente penosas e desumanas. Refiro-me à profunda desigualdade de atitude e valores éticos e estéticos entre as pessoas de um mesmo meio, de uma mesma cidade, de uma mesma escola, de um mesmo país.
Refiro-me à falta de autoridade que se vive actualmente no nosso país transformando o dia-a-dia num susto permanente, num suplício; na agressividade das pessoas e entre as pessoas, e no enorme equívoco em que se vive.

Ontem fui ao Continente de Telheiras, antigo hipermercado Carrefour. Eram 19h30m e fiquei perfeitamente pasmada ao assistir a uma cena que seria cómica se não fosse, de facto, trágica.
Antes de entrar no hipermercado resolvi dar uma vista de olhos pelas montras das várias lojas do corredor que lhe é contíguo.
Ainda nem tinha tido tempo para poisar os olhos em nenhuma delas e a minha atenção foi violentamente desviada para uma algazarra enorme vinda das escadas rolantes que se encontram à entrada do centro, entre os andares dos estacionamentos e o comércio propriamente dito.
As pessoas afastavam-se para os lados do largo corredor para darem passagem a um bando de rapazes pretos, com as faces parcialmente encobertas, com barretes enfiados pela cabeça abaixo vestindo casacos com capuz enfiados nas cabeças por cima dos gorros de lã. Seriam uns dez ou quinze. Urravam e bramavam “black power”, “poder aos blacks”, e mais uma série de slogans e frases muitas das quais imperceptíveis, embora fossem ditas em alto e bom som.
À sua passagem iam pondo os alarmes das lojas a tocar apanhando peças de roupa e artigos que puxavam até à porta fazendo soar os alarmes. Imaginam o reboliço?
O som das vozes misturado com os alarmes a tocar e os empregados a correrem de um lado para o outro? E as pessoas muito juntinhas às paredes laterais agarrando as malas e certificando-se que ainda tinham as carteiras nos bolsos?
Mas o mais curioso estava para ser visto.
Atrás deste bando vinha outro. Um punhado de polícias, talvez uns 7 ou 9, com um ar desalinhado e afogueado, sem grande atitude, demonstrando movimentos atabalhoados e muita insegurança.
Limitavam-se a assistir ao que se passava sem nada fazerem ou dizerem. Provavelmente por não poderem ou por saberem que não valeria a pena intervir por serem os intervenientes menores de 18 anos? Ou teriam ordens para não o fazer? Ou, ou...sei lá eu!
Eram agentes da PSP, homens e mulheres, e já devia ter havido confrontos entre os dois grupos pois alguns vinham com a farda amachucada e em desalinho, corados e suados, preocupando-se com as colegas do sexo feminino.
-Estás bem? Ele magoou-te? Mas estás magoada? – perguntavam alguns polícias às suas colegas.
Comparativamente o grupo de adolescentes desordeiros caminhava com atitudes agressivas, obscenas e aparentemente displicentes urrando, gritando e cantarolando frases de alguma canção "rap" misturadas com as palavras de ordem tipo “poder aos pretos”.
E o "arrastão" prosseguia pelo largo corredor ladeado pelo hipermercado por um lado e por lojas pelo outro, com as pessoas aterrorizadas ou espantadas, segurando as criancinhas, agarrando as malas, metendo-se para dentro das lojas com os alarmes a tocar violentamente.
E os polícias também lá iam na procissão, atrás dos desordeiros sem qualquer intervenção ou fim consequente.

Quando este estendal de falta de ordem e de autoridade, de bom senso e de esperança passou as pessoas olharam umas para as outras incrédulas.
Umas comentavam que eles isto e mais aquilo, que deveria fazer-se isto e mais outras coisas.
Outras correram rapidamente para os seus automóveis estacionados nos parques para verificarem se nada lhes tinha sido furtado ou para se safarem dali o mais rapidamente possível.
Mas ali ou acolá seria igual.
Já não há bons e maus sítios assim como já não existem boas ou más companhias ou boas ou más ruas e bons ou maus bairros.
Somos assaltados tanto às 7h da manhã como às 18h ou às 2h da manhã. Tanto à saída da discoteca ou do cinema como dentro do Metro ou do hipermercado. Os assaltantes são brancos, pretos, mulatos, portugueses, brasileiros, eslavos, de toda a parte e de todo o mundo. A cor da pele é variada, a linguagem também mas os modos iguais, as ameaças idênticas e as agressões muitas. E a falta de autoridade é a tónica constante em todas as situações no género.

As opiniões começam a ser unânimes acerca da difícil ou impossível recuperação da autoridade no nosso país face a estas atitudes e agressões aos cidadãos. Aos adultos, às crianças que vão para a escola e só transportam a mochila, o honorak, às vezes um relógio ou um telemóvel. E outras vezes nada, acabando por levar uma valente tareia por não terem material roubável.

Já chegámos ao fundo do poço? Já lá batemos? Agora será a vez de começar a subir? E qual o caminho se nem ditador com qualidade existe para pôr tudo isto na ordem?

Não, não sou contra a democracia. Sou até mesmo muito democrata pois vivi em Portugal no tempo da ditadura fascista e sei o que é não poder falar, votar ou ser. Mas agora também não posso viver ou ser livremente, mesmo respeitando os outros e as regras da boa convivência, pois sou agredida, roubada e mal tratada. Os meus filhos são agredidos e roubados. Os meus pais são esfaquedos à ida para o centro de saúde de madrugada. Isto também não é democracia.
E não cabe aqui falar de outras atrocidades vividas diariamente pelos portugueses como sejam as listas de espera para uma cirurgia oncológica e outras situações semelhantes bem nossas conhecidas e que proliferam e povoam os nossos dias e o quotidiano.

Não, não sou a favor de uma ditadura nem à esquerda nem à direita, pois tudo o que é impostamente agressivo não deixando lugar à liberdade individual – não esquecendo que a nossa liberdade acaba onde começa a dos outros – é nefasto certamente.
Mas neste estado de sítio em que nos encontramos a autoridade terá de ser reposta a qualquer custo. E aos que cumprem e continuam a cumprir restará somente continuar a fazê-lo, dessa feita com muito mais segurança e liberdade.
O caminho para o fazer? Não sei. Nem consigo lembrar-me de ninguém com qualidades morais e pessoais que possa fazê-lo.
Mas espero que exista. De contrário o black power ou o white power ou qualquer cor power dará cabo de todos nós. Deixaremos de ser pessoas para passarmos a ser animais selvagens...minto, nem sequer isso conseguiremos ser pois na selva existem regras e equilíbrios, atributos que não se aplicam nesta sociedade em que vivemos.

Para final de ano não estou com um discurso abundante em esperança e fé, pois não?

terça-feira, dezembro 23, 2008

24 de Dezembro,
ou outro dia qualquer

Natal significa nascimento.

Não nos esqueçamos de recordar
que esse nascimento acontece
a cada momento em que nascemos de novo.
Aparentemente simples é nele
que aprendemos a humildade. Que enchemos a alma que torna grandes os homens
que se apercebem das vezes que renascem ao longo da vida.

Jesus acontece em nós. Ele é todos os dias.
É preciso estar atento,
sentir,perceber.
Estar atento à alma. O que é ter fé?

Notei-O. E às suas bençãos
às quais dei nomes e falo da minha fé.
Tu, tu e tu. E também vocês
são estados da minha alma atenta.