Escrever histórias 100 palavras

As histórias fazem parte do nosso universo, mesmo quando já somos crescidos por fora. Escrever histórias é uma das formas de conseguir sobreviver ao mundo dos crescidos. Helena Artur é o pseudónimo da Joana Quinta

domingo, janeiro 29, 2012

BLOCO DE NOTAS


Neste fim de semana o sol estava carinhosamente convidativo e levou-me até lá. 
O vento, ligeiramente frio, lembrava-o ainda mais.
Seria ali que os meus olhos teriam ficado se sítio tão especial tivesse lugar guardado no teu peito. 
Com aquele cheiro verdejante a abraçar-me 
e o mar ao fundo saí de alma cheia.
A praia do Guincho estava calma.


sexta-feira, janeiro 27, 2012

TRECHO DE UM TEXTO (4)


És fonte que conheço onde perdura a minha sede
num passado a preto e branco como fotografia antiga.
Nas palavras que escrevo há chuva de lembranças
cujas gotas amparo nas mãos.
Depois, quando chega a dor de te abraçar no silêncio do vazio
trago os dedos acesos e a boca desfeita, dançando nua no papel da solidão.
Acorda em mim um grito molhado escorrendo o medo 
de não te encontrar nesta viagem das sensações e desejo.
Ficam as mãos molhadas e meigas percorrendo o teu prazer
ao encontro dos teus gemidos e da chuva de tinta onde te descrevo.

terça-feira, janeiro 24, 2012

PARÁGRAFOS DE UM TEXTO




Ontem adormeci molhada no teu nome. 
Mãos dadas com a força dos amantes.
Hoje acordei só, com o meu nome. 
Espera...a procura continua. 
Abre o teu coração e deixa-me entrar. 
Contar-te-ei uma lenda ( sabes o meu encanto por lendas!):

Um pai pediu a um sábio para explicar ao filho o que era a vida. 
O rapaz viajou até casa do sábio e, ao chegar, encontrou um palácio cheio de beleza e de vida. O sábio pediu-lhe que esperasse mais duas horas mas
passeando pelo palácio, enquanto esperava, com uma pequena colher com duas gotas de água. 
O rapaz obedeceu e passadas duas horas voltou para o sábio com a colher com as duas gotas de água. O sábio deu-lhe os parabéns e perguntou-lhe se tinha gostado das tapeçarias nas paredes, das estátuas nos corredores, dos tectos trabalhados.
O rapaz disse que não tinha reparado nisso, que tinha estado preocupado em não deixar cair a água da colher.

Deixa-me gravar dentro do teu coração que viver é fazer as duas coisas. Manter a água na colher e ir admirando as cores, as estátuas, as estrelas, as mãos dadas, o sabor do amor aconteça o que acontecer, a força dos amantes, haja o que houver.
Ontem adormeci dentro do teu nome.




sábado, janeiro 21, 2012

TRECHO DE UM TEXTO (3)




É espantoso!

Amo-te cada vez mais e cada vez mais te sinto longe. Perdida de mim. Como se o desengano fosse fatal. Como se a vida te tivesse enganado. Como se começasse a ser difícil suportar esta realidade dolorosa e não esperada. Como se já nada valesse a pena. Mas não desistas meu amor, mostra-me, mais uma vez, o teu interior.
Sei o que sentes: o esforço, pelo esforço. O estar pelo estar. E o desejar que algo, lá do infinito, arrume outro destino.

Quem me dera que os meus olhos me mentissem e os teus se iluminassem.
Quem me dera que este teu sono me trouxesse, um dia, de volta os teus queridos abraços.
Não sei se é por ter vivido sempre à procura de outro destino que hoje descubro tristeza e dor em quem eu amo. E não sei ajudar-te,  além de ir fugir cobardemente...além de saber baixar os olhos e nem sequer conseguir despedir-me com palavras. Não vais entender a minha cobardia, o meu egoísmo e a minha fraqueza. Eu que sempre tentei mostrar-me forte e corajoso aos teus olhos por tanto te amar.

A primeira vez que lutei, de facto, contra o meu "caminho" foi quando te conheci.
Tu representas sempre a diferença. O direito a ser feliz, pelo menos um instante. E se por alguma razão fechares tu hoje a porta, já terá valido a pena.
Tocar-te, olhar-te bem nos olhos, perder-me neles, sentir o teu sorriso tem as cores do paraíso.
Tenho pena de não poder escrever no céu que te amo.
Tenho pena de não poder dizer a toda a gente que te tenho e te quero cada vez mais.
O meu amor por ti tem cores. E fica cinzento quando te sinto longe e a sofrer.
Claro que sei que estes últimos meses não têm sido fáceis. Sei o quanto a dor encobre o gostar, quanto o sofrimento mata o estar, por demais que seja a cumplicidade, o querer e o nosso amor. 
Não te direi nada, iludir-te-ei com o tempo, mas vou fugir de mim. Sem palavras, sem que saibas porquê para além do egoísmo e da cobardia que agora já deves conhecer.


sexta-feira, janeiro 20, 2012

TRECHO DE UM TEXTO (2)




Antes de mais perdoa-me a letra titubiante. O combóio pode ser alfa, mas a linha, no mínimo é Omega para não dizer Zeta.
Pronto... mais uma viagem, mais uma corrida.
Passei uma noite horrível.
Como previste não me consegui adaptar ao colchão nem à tua falta.
Debati-me entre um quarto muito quente, um colchão muito mole, uma saudade muito dura, uma televisão com muitos canais e sempre tu. Sempre tu.
Achei que estas poucas horas solitárias me ajudariam a arrumar esta cabeça. Faltam duas horas para chegar a Lisboa e não o consegui.
Ninguém está livre do passado. Mas a verdade é que também ninguém tem que viver exclusivamente em função disso. No entanto, eu não acredito no presente.
O presente é criar motivos que valha a pena recordar. O presente é investir o suficiente na memória, na imortabilidade.
Tenho a certeza que a minha razão de ser não está na aprovação dos que me rodeiam. E ainda bem. Mal estaria. No entanto, sei que procuro, nas coisas que faço, uma razão para a minha existência.
Não me peço grandes façanhas. Mas exijo de mim uma relativa autoridade face ao exigente momento que me rodeia.
Acabo por ter necessidade de fazer coisas que gosto, mas sem grande prazer, no intuito de ter uma maior disponibilidade.
Só que o tempo não estica.
Para que serve perceber o fenómeno islâmico no mundo árabe? Para que serve perceber as semelhanças entre o estruturalismo católico da Polónia e a irreversabilidade do poder do Islão?
Para nada!... responderá quem não percebe que viver é saber.
Nada! para quem acha que é espectador da sua própria realidade.
Pensar é um exercício que precisa de continuidade. E que precisa de ser trabalhado com critério. Um exercício constante feito no mau sentido só vai agravar a deficiência.
Por vezes, apetece-me ser incongruente. 
Deixar tudo, manter o essencial e viver só a teu lado. Eu não seria eu, tu não serias feliz.
Viver é partilhar. É trocar experiências, é encontrar em cada diferença razões para crescer.
É espantoso. Mesmo continuando a doer acredito que a vida é a síntese permanente entre diferentes formas de ser.
PALAVRA


A encomenda tinha a forma de uma caixinha de pequenas dimensões. Estava embrulhada em papel azul escuro. O selo colado e carimbado pelos CTT davam-lhe um aspecto envelhecido.
Abri-a, com a curiosidade do costume.

Que caneta tão bonita! Com desenhos gravados na prata, muito leve e fina, mesmo para uma mão feminina.

Abri o cartão dobrado para o ler: 

"Esta caneta esperou tanto tempo, como eu. Um bj."

quarta-feira, janeiro 18, 2012


TRECHO DE UM TEXTO (1)




"Quando sairmos cada um vai para seu lado".
Nunca disseste nada que tanto me ferisse.
Senti que algo me retalhava, tive vontade de chorar, de me insultar. 
Sim, amor, o homem forte em quem todos confiam, o infalível, vacilou e tombou por terra como uma árvore abatida, o espectácula mais triste da natureza.
Fiquei só, naquele passeio solitário e duro, vendo a tua frágil figura afastar-se, leve, muito leve, mas triste, muito triste. Caminhavas como que levada por mão irresistível que teima em nos separar e contra a qual lutei; parecias flutuar no ar, esvoaçar para longe qual ave procurando a liberdade. Paraste e acenaste adeus. Adeus amor até um dia neste mundo, ou num outro, já que este tudo nos nega. Vai em paz querida, o meu espírito voa sobre ti, fraco demais para proteger-te, forte demais para renunciar.
Lá longe já na esquina, mais te adivinhava do que te via, mais contigo sonhava do que te sentia, eras a sombra fugidia do sol poente num fim de tarde de Agosto.
Existes? Vives? Amas-me? Sei lá!
Imaginei-te, sonhei-te, materializaste-te para logo desapareceres. Serás fruto da minha imaginação ou realmente existes?
Se assim é porque não estás aqui junto a mim, dizendo que me amas a cada segundo que passa, afagando com os teus lábios leves a minha orelha, sussurrando o amor que nos une e nos separa.
Neste momento nada sei, nada afirmo.
É tudo vazio em torno de mim. Há escuridão na vida à minha volta.
Adeus ténue miragem. Foste cruel, vieste não sei de onde, fizeste-me provar o mel para logo me dares o nada, o vácuo, a tua vida que me afunda, a mesma vida sufoca a força onde estrebucha um amor que recusa a noite.
Que me espera?
O suplício de te ver distante?!
A tortura de não poder desesperadamente gritar a minha paixão por ti!
Se essa é a tua vontade, segue o teu caminho, olha em frente e não vejas o condenado prostrada no chão, agrilhoada na tua imagem, crucificada nos teus braços. Segue em frente e ignora, fecha os ouvidos aos lamentos de suplício, fecha os olhos ao espectáculo da dor e do desespero que me arrasam.
Faz o que quiseres, não digas adeus e vai-te se assim quiseres ainda que rasteje, que suplique, que me cale; pede o que quiseres e eu to concedo.
Mas não, ah isso não! Não peças que te não ame, que te não venere como a uma divindade que tudo significa. 
Isso não, amor, deixar de te amar nunca!
SEGREDO 2




Se é o essencial que demandas,
não te esqueças que é no andar pelos dias,
no seu labirinto, que se encontra o fio da meada
que nos tolhe.
Talvez amanhã voltes a acontecer.
A tua boca abrir-se-á num sorriso de chegada,
os teus olhos brilharão de novo
e o teu calor envolverá os murmúrios que vivem no meu interior
quando, nesse dia, os meus lábios tornarem a acariciar os teus.



sábado, janeiro 07, 2012

SEGREDO



No teu corpo
habita o meu
em voos nocturnos
percorrendo,
descalço,
os soalhos das palavras 
mais íntimas.


A noite é curta
quando os olhos
se embriagam de pássaros 
e de luas.


O teu corpo
planta poemas de lábios
no meu 
criando raízes
no meu solo
mais atento.

Calámo-nos de beijos 
e de gritos de suor.

sexta-feira, janeiro 06, 2012


FORGET THE FUTURE


Serão as memórias só memórias? 
Por vezes convertem-se em realidades etéreas.
Nas felizes e nas que nos magoaram e rasgaram o acreditar.
Pensemos nelas, então, até se resumirem ao que são
e deixarem de aparecer sem convite.
De contrário, reencontrá-las-emos
a pouco e pouco em nós,
sendo como realidades invivíveis e invisíveis,
como uma sombra por companhia.
Pensemos nelas até a lama as cobrir com uma camada intransponível.
Até que não nos façam falta
e deixem de ser parte de nós.