somos mais nós.
Ficamos sempre mais nós quando deixamos de fazer parte de alguém
ou quando ninguém ocupa lugar algum do nosso todo.
É assim.
Ficaremos mais tristes ou mais alegres,
mais dinânimos ou inactivos,
deprimidos ou com vontade de agarrar a vida,
mais ou menos magoados,
mas ficamos sempre mais nós.
Amando alguém fazemos parte de um todo.
O amor retira-nos egoísmo e reparte-nos com o coração do outro.
Divide-nos a alma e espalha-a para que a cumplicidade nasça,
que a adaptação ressurja do que não existia antes.
Ter em conta o outro, ficar atento
é também amar
continuando a sermos os mesmos
mas mais ricos na partilha e na cumplicidade,
mais felizes no encontro.
A nossa essência continua exactamente a mesma
mas em consonância com o ritmo do outro,
com o seu respirar
com o seu querer
sem que o egoísmo tome parte de nós.
Quando ficamos sós
parece-nos que tornámos a ser mais nós,
a fazer o que queremos, quando queremos.
Estamos mais tristes ou mais alegres sem ter de pensar em mais ninguém.
Não aguardamos o outro, não nos pode magoar,
nem o esperamos mais.
Estamos certamente muito mais pobres
ou então, o outro não era o tal.
Quem nos faria esquecer o egoísmo,
o isolamento,
o desamor pelos outros e pela vida.
Se te sentes mais tu agora
É porque não era eu.
Posso inventar que agora sou mais eu.
Durmo quando quero
acordo quando menos espero.
Pinto ou escrevo sem hora marcada,
saio sem olhar para o relógio,
esqueço-me do telemóvel
e absorvo o mundo como nunca.
Amo quando quero,
odeio quando é preciso
choro ou rio sem me preocupar.
Arejo a cabeça e o coração sempre que me dá na gana,
a rua acolhe quem nunca vi
como se a vida tivesse estado suspensa enquanto estive contigo,
enquanto fui parte de ti.
Mas não estou mais feliz sem ti.
Se te sentes mais agora
e assim estás melhor
é porque
definitivamente não era eu.