Escrever histórias 100 palavras

As histórias fazem parte do nosso universo, mesmo quando já somos crescidos por fora. Escrever histórias é uma das formas de conseguir sobreviver ao mundo dos crescidos. Helena Artur é o pseudónimo da Joana Quinta

segunda-feira, outubro 27, 2014



RESPOSTA DOS SILÊNCIOS 

Meu querido,

Quando amamos vivemos pequenos infinitos.

  
O sofrer faz parte da ilusão de que podemos controlá-lo mas, quando nos propomos viver, desafiamos o mundo, os nossos outros, não controlando dor, alegria, o entusiasmo e as lágrimas. Nem as gargalhadas e as desilusões.

De contrário, meramente nos encaixaríamos  em parâmetros erigidos por nós que erradamente sentimos que nos protegem.


Porque viver é perceber que nos vamos rasgar vezes sem conta.

Quando amamos vivemos pequenos infinitos.

Ficamos infinitamente maiores ! 
E a coragem de ter coragem de perder o medo faz parte da conquista de viver inteiro.
Há segundos eternos.

Se escolhesse não me apaixonar o coração desobedecer-me-ia amando a entrega que  dilui o medo.
Que a tua vontade de ser feliz seja mais forte que o medo de chorar.

Por isso poetiso-me, reescrevo-me porque também tenho  sonhos que me vivem.

Quero fechar os olhos e responder-te devagar. 
Viver devagar a calma na alma e o fogo no coração.

Perguntaste-me sempre dos meus silêncios... 

é que no meu coração entraste sem barulho, 
só com o silêncio do sentir vivendo pequenos infinitos.

 



domingo, outubro 26, 2014


 APRENDIZ



Aprendo todos os dias a arte de aprender, apreendendo. 
A tomar consciência sem entrar em enredos que não me pertencem.
E a ter gratidão por tanta aprendizagem que me faz acreditar no importante.
Recuso a entregar-me a desonestidades, mentiras e falta de amor retirando a alma de todas as partes.
Estendo o lençol que cobre o infinito

Eterna aprendiz é o que sou.



ABRAÇO INAUGURADO




Assumo que me abri

até o meu corpo se apertar contra o teu.


E que aquele abraço foi o de sempre

aquecendo o esquecimento,
roubando o cheiro da pele que quase doeu

agarrada que ficou na memória.



Assumo a saudade

que me encheu por dentro confessando que morri,

porque ninguém sai vivo de quem ama.



Ressuscito-me todos os dias

percebendo  o lugar vazio,

grande demais para as palavras



Nem tivemos tempo para ser imperfeitos. Fomos só amorosamente humanos,


tu sabes que sim.

sábado, outubro 25, 2014



MOMENTO




Identificado com a espessura da memória

vi-te nas cartas que ontem caíram 
no tampo da mesa.

 

Derramas gotas de água pelo chão
pintando uma amargura escura

povoando os claustros do meu rosto.

 

Buscas salvação para o que não há em ti,
procurando nos meus olhos o mar infindo
finito já nos teus.

 

Esquece-me pois aprendi a cantar
neste lugar onde o ar é vasto demais 
para um choro que não apaga as perdas.

 

O lugar interior é agora inquebrável
ousando sonhar todos os dias,
ao teu contrário.

 

Desmonto-te para ser autêntica
e suporto acusações para não trair a alma

conseguindo perceber a beleza 
que não é bonita todos os dias.

Foi um momento vazio.

terça-feira, outubro 21, 2014



CONVERSAS DA ALMA



Confesso-me feliz nos teus beijos

e  no braço do abraço que me quis amar.


Vagueámos no caminho que fizémos ontem

quando plantaste flores nos meus cabelos

adormecidos no teu peito

e na paciência do que se faz devagar,
como quem sabe ser  breve a lua nova
e a água que nos faz sede.


Os beijos, as responsabilidades 
e finalmente as escolhas
molham o chão com os pés descalços

onde podemos acreditar sem medo.


Hoje esvazio-me de tanta coisa

sorrindo por fora das esquinas do lado de dentro

nos dias preenchidos com um tudo o que importa,

com o teu cheiro lá dentro.